Rio - É quase impossível não estranhar quando
se ouve de Julio Cesar Nunez Naranjo, 46 anos, o valor que recebe por
mês em Cuba. “Cerca de 30 dólares (quase R$ 70). É uma boa remuneração”,
diz o médico, em um compreensível ‘portunhol’, após atender uma mãe e
um bebê no Centro Municipal de Saúde de Vila do Céu, em Campo Grande.
Mas a relação com o dinheiro não é a única diferença na comparação com
os médicos brasileiros.
A chegada dele à unidade já provocou mudança no comportamento de outros profissionais. E a explicação está na formação acadêmica: a medicina cubana incentiva laços mais estreitos com os pacientes. “Os médicos que vêm de fora colhem material para preventivo. Alguns não faziam isso. Mandavam sempre a enfermeira. Já ouvi muitos dizendo que agora vão fazer o procedimento”, conta uma funcionária da unidade.
Até o momento, a prefeitura não tem registro de problemas com médicos estrangeiros. Pelo contrário. A aceitação tem superado as expectativas. Acostumada a atender em localidades de extrema miséria, em países como Honduras e Bolívia, Leonor Maria Pérez, 48, acha que a profissão é uma atividade humanitária. “Todo médico deveria trabalhar em regiões carentes. A gente estuda é para isso, para ajudar as pessoas”.
A chegada dele à unidade já provocou mudança no comportamento de outros profissionais. E a explicação está na formação acadêmica: a medicina cubana incentiva laços mais estreitos com os pacientes. “Os médicos que vêm de fora colhem material para preventivo. Alguns não faziam isso. Mandavam sempre a enfermeira. Já ouvi muitos dizendo que agora vão fazer o procedimento”, conta uma funcionária da unidade.
A sensação térmica em Vila do Céu era
de 40 graus na quinta-feira, quando Julio recebeu O DIA no consultório.
Do bolso, ele tira um lenço para enxugar o suor no rosto. Apesar do ar
condicionado, o calor é quase insuportável. Uma realidade que não
assusta quem tem no currículo experiências no Haiti, onde o atendimento
era feito em postos sem ventilação ou qualquer iluminação.
“Achei que iria encontrar um cenário
no Rio muito pior do que realmente é. Vi que tem estrutura e a equipe é
dedicada. É possível fazer um bom trabalho”, avalia ele, que deixou dois
filhos na ilha de Fidel. “Um deles será médico”, diz, orgulhoso. Por
aqui, o trabalho na comunidade de 29 mil habitantes será exaustivo. No
hospital onde atuava em Cuba, ele tinha sob sua atenção 1,2 mil pessoas.
Em Vila do Céu, serão 4 mil. Pacientes como a pequena Mariana Cadena,
de 6 meses, estão na lista de atendimento. Enquanto mama, sua mãe, a
camelô Raquel Cadena, 38, diz estar esperançosa.
“Ficamos quase dois meses sem o
médico de família. A ajuda vinha da enfermeira, que acompanhava o peso
da neném. Estava preocupada com o desenvolvimento dela”, avalia Raquel. A
mãe disse não se importar com a consulta auxiliada por uma enfermeira
tradutora. “Quero alguém para me atender. Não importa de onde venha”.
Dos R$ 10 mil que o governo
brasileiro vai passar para a Organização Pan-Americana de Saúde,
referentes ao trabalho dos cubanos, Julio e sua família vão ficar com
cerca de R$ 2,3 mil. O restante é retido por Cuba, que durante os três
anos que os médicos vão ficar aqui continuará depositando o salário
deles. “O que vai para lá será reinvestido na área de saúde. Não é para
mim. É para todo mundo”, explica Julio, sem se mostrar incomodado.
Cidade que mais avançou
A chegada de 70 médicos estrangeiros, sendo 65
vindos de Cuba, vai elevar o Rio ao patamar de cidade que mais avançou a
curto prazo em cobertura de saúde da família. A partir de amanhã, o
cadastro de controle da Secretaria Municipal de Saúde passa a registrar
mais 300 mil cariocas com atendimento monitorado pelo programa. Com
isso, serão, no total, 2,83 milhões de pessoas monitoradas pelos postos
de saúde e Clínicas da Família. Com o reforço vindo de outros países,
esse percentual vai saltar dos atuais 41% para 45%.
Até o momento, a prefeitura não tem registro de problemas com médicos estrangeiros. Pelo contrário. A aceitação tem superado as expectativas. Acostumada a atender em localidades de extrema miséria, em países como Honduras e Bolívia, Leonor Maria Pérez, 48, acha que a profissão é uma atividade humanitária. “Todo médico deveria trabalhar em regiões carentes. A gente estuda é para isso, para ajudar as pessoas”.
Medo da violência noticiada
A rotina no Rio é parecida com a de
Cuba. São 40 horas por semana, mas lá os médicos trabalham quatro horas
todos os sábados. Assim como o colega que atua em Vila do Céu, José
Manuel Anaya, 45, que trabalha no Centro de Saúde de Inhoaíba, passou
pela Venezuela. Também esteve em Gana antes de vir para o Brasil.
No Rio, admite ter medo da violência:
“Vejo nos jornais que aqui tem três, quatro mortos por dia. Por isso,
estou sempre atento”, afirma o cubano, que ainda não teve tempo para
conhecer pontos turísticos da cidade
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