12 de setembro de 2012

Policiais militares se articulam para disputar vagas na Câmara


Ex-comandante da PM, responsável pela operação no Pinheirinho; e ex-chefe da Rota, responsável por 114 assassinatos durante seu comando, disputam vagas na Câmara
02/08/2012

José Francisco Neto
da Redação do Brasil de Fato

Dois ex-comandantes da Polícia Militar são candidatos a vereador em São Paulo. O primeiro, Álvaro Camilo, responsável pela indicação de 30 dos atuais 31 subprefeitos da capital (todos coronéis da PM) concorre a vaga na Câmara pelo PSD, do prefeito Gilberto Kassab; o segundo, coronel Telhada, ex-chefe da Rota, retribui a José Serra o "voto de lealdade" que este lhe concedeu ao nomeá-lo comandante da Rota quando governador do estado, ao concorrer uma vaga na Câmara pelo PSDB, com o slogan “Uma nova Rota na política de São Paulo”.
Outros dois egressos de corporações policiais já são vereadores : o ex-sargento Abou Anni (PV) e o delegado licenciado da Polícia Civil, Celso Jatene (PTB).
Camilo foi um dos responsáveis pela invasão da Tropa da Polícia Militar na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), em que 2 mil policiais, 220 viaturas, cem cavalos, 40 cães e 300 agentes da prefeitura participaram da operação para retirar as 1.600 famílias que moravam no local.

Durante a “desocupação” truculenta uma jovem foi estuprada por policiais militares que a obrigaram a fazer sexo oral, e o aposentado Ivo Teles dos Santos, que foi espancado também por policiais, morreu após ficar dois meses internado no hospital em estado vegetativo.

O ex-comandante também esteve à frente da ação que retirou os cerca de 70 alunos que ocuparam a Reitoria da Universidade de São Paulo (USP) em novembro de 2011 - quando mais de 200 homens da Tropa de Choque invadiram o prédio em que os estudantes ocupavam para reivindicar o fim do convênio entre a universidade e a PM e pelo fim dos processos criminais e administrativos contra alunos e trabalhadores.

Segundo o jornal Valor Econômico, cinco dos subprefeitos que escolheram o ex-comandante da PM para concorrer ao cargo de vereador estão estrategicamente localizados nas quatro pontas da cidade de São Paulo e na região central - Sé, Cidade Tiradentes, Jabaquara, Jaçanã e Pinheiros- e são, inclusive, filiados ao PSD de Kassab.

Tucano da Rota

O tucano e ex-chefe da Rota (Ronda Ostensiva Tobias Aguiar), Adriano Lopes Lucinda Telhada, também será candidato à vereador em São Paulo.

O coronel, agora aposentado, foi comandante da Rota de maio de 2009 até novembro de 2011. Em dois anos e meio no cargo, a Rota inflou o número de mortes sob sua responsabilidade em 63,16%, com 114 assassinatos cometidos. Telhada é um conhecido linha-dura que se orgulha em sentenciar “bandidos” com morte (sob seu próprio julgamento) e tem 29 processos judiciais e militares arquivados, segundo matéria do site Carta Maior.

De acordo com Givanildo Manoel da Silva (Giva), militante do Tribunal Popular, essas candidaturas, que têm se apresentado na perspectiva do agravamento da violência, são atos antidemocráticos. Segundo ele, nos últimos dez anos, no Brasil, morreram mais de meio milhão de pessoas, fato que por si só, em um país que não está vivendo uma guerra, acaba sendo uma tragédia humanitária. “Figuras que tem em seu passado a marca de colaborar para agravar essa situação, utilizando principalmente o discurso que nos levou à essa tragédia, não deveriam participar de processos democráticos”, ressalta Giva.


Ameaça continua

Telhada, que no mês passado ameaçou o repórter da Folha de S.Paulo André Caramante - o que levou o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo a protocolar um ofício junto aos órgãos públicos informando a gravidade da ocorrência - voltou a ameaçar o repórter em entrevista ao jornal Valor Econômico, nesta quarta-feira (01).

"Se ele [o repórter] é tão f* para escrever, porque não é f* para segurar? Por que ele pode falar o que ele quer e eu não posso?". Sobre as recorrentes denúncias de corrupção dentro da polícia disse ainda: “Pra mim, tinha que ser que nem em época de guerra, traiu, manda pro pelotão de fuzilamento".
Militarização nas subprefeituras

Atualmente, 30 das 31 subprefeituras em São Paulo são chefiadas por coronéis, o que representa um “atentado à democracia” na opinião do presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, Adriano Diogo. Diogo ressalta ainda que os coronéis não estão somente nas subprefeituras, pois também se infiltraram no Coordenação Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG) e chama a atenção para uma suposta milicialização. “É uma coisa terrível, gravíssima. Uma afronta ao estado democrático de direito. Isso que eu chamo de um estado paramilitar paralelo”, diz Diogo, que também é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo.

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