5 de setembro de 2012

A obsessão do jornalismo partidário


A obsessão do jornalismo partidário

Por Venício A. de Lima em 04/09/2012 na edição 710

Desde que o Ibope Inteligência começou a fazer levantamentos sobre o Índice de Confiança Social (ICS), em 2009, a mídia (meios de comunicação) foi a instituição brasileira que apresentou maior queda em sua credibilidade, atrás apenas do sistema público de saúde e das escolas públicas: de 71 pontos em 2009, chegou a 67 em 2010 e atingiu 55 pontos em 2011, vale dizer, 16 pontos a menos (ver aqui).
A queda acentuada de credibilidade da grande mídia não é um fenômeno que ocorre somente no Brasil. O respeitado Pew Research Center for the People and the Pressdivulgou recentemente resultado de levantamento sobre a credibilidade dos treze principais grupos de mídia nos Estados Unidos: nove registraram queda importante. A média positiva, que em 2010 era de 62%, caiu para 56%. Registre-se que em 2002 o índice era de 71%, isto é, 15 pontos percentuais acima (ver aquie, neste Observatório, “Credibilidade jornalística diminuiu, revela pesquisa“).
No Brasil, as razões para a acentuada queda de credibilidade da grande mídia são várias e já tive a oportunidade de tratar da questão em outras ocasiões (ver “Pontos dos Princípios reforçam dúvidas“ e “Ética e credibilidade de uma profissão“). Entre essas razões certamente está a inconteste e fartamente documentada partidarização que passou a caracterizar o “jornalismo político” que tem sido praticado nos últimos anos.
Retomo o assunto a propósito de um episódio certamente menor, mas emblemático.
Jornalismo ou oportunismo partidário
Alguns dos principais jornalões brasileiros estamparam em sua primeira página, na sexta-feira (31/8), a fotografia da presidente Dilma Rousseff lendo a resposta de duas de suas ministras a bilhete que ela mesma lhes mandou em solenidade no Palácio do Planalto, ocorrida na véspera. A foto saiu com grande destaque nas capas de O Globo,O Estado de S.Paulo,Estado de Minas eCorreio Braziliense.
As matérias e colunas relativas à foto, em sua maioria, comentavam o desencontro entre a posição da presidente e o acordo que teria sido sacramentado entre as ministras de Relações Institucionais e do Meio Ambiente e parlamentares visando a aprovação de medida provisória relativa ao polêmico Código Florestal.
Algumas dessas matérias chamaram a atenção para o uso de bilhetes entre a presidente e suas ministras, prática que já foi utilizada no passado pelos ex-presidentes Getúlio Vargas e Jânio Quadros.
Correio Braziliense, todavia, escolheu aproveitar a ocasião para atacar o ex-presidente Lula. Na capa do jornal está escrito ao lado da foto da presidenta Dilma: “A presidente não apenas é contra a censura como, ao contrário do antecessor, lê jornais”.
Na página interna (5) que trata do assunto, um box assinado pelo editor de política com o título “Uma presidente que lê jornais” diz:
“O mais importante no bilhete é que Dilma reconhece a importância dos jornais impressos, ao contrário do que já afirmaram outros presidentes, incluindo aí o petista Luiz Inácio Lula da Silva. É preciso comemorar a leitura de Dilma”.
Um pouco à frente, prossegue o editor:
“É bom saber que temos no maior posto de comando do país alguém que utiliza informações produzidas pelos jornais impressos para cobrar resultados dos auxiliares. Um ponto a mais para a presidente.”
O alvo é o ex-presidente
No momento em que o STF realiza o julgamento da Ação Penal nº 470 sob intensa artilharia da grande mídia que tem ignorado deliberadamente a presunção constitucional de inocência desde que estourou o escândalo no primeiro governo Lula [cf. Venício A. de Lima, Mídia: Crise Política e Poder no Brasil, Editora Perseu Abramo; 2006], a utilização do episódio do bilhete para atacar o ex-presidente, inclusive insinuando – irresponsavelmente – que ele seria a favor da censura, expressa o grau de partidarização a que chegou o jornalismo político praticado pela grande mídia.
O Brasil talvez seja hoje o único país do mundo onde a oposição sistemática da grande mídia se dirige não à presidente em exercício, mas a um ex-presidente da República. E para isso, além de promover a atual presidente – que o ex-presidente fez eleger – também dela se utiliza para perpetrar os ataques.
Não é sem razão que despenca a credibilidade da grande mídia.
***
[Venício A. de Lima é jornalista, professor aposentado da UnB e autor de, entre outros livros, de Política de Comunicações: um balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012]

1 comentário

NilvaSader

O autor deste comentário não é de esquerda, não é petista e, em 99% das vezes, discordo de suas ideias. Mas, neste caso, ele está 1000% coberto de razão. Passou da hora de os ilustres parlamentares do "meu partido" tomarem alguma atitude contra a desconstrução continuada que vem sendo feita há anos contra o governo do Partido dos Trabalhadores pelo oligopólio midiático.

A DEFESA POLITICA DO GOVERNO

"O processo do Mensalão terá desdobramentos politicos cujo
perdedor sera o atual Governo do PT. Os prejuizos processuais cairão sobre os acusados e condenados mas o grande prejuizo politico será para o PT em 2014. Isso está absolutamente claro.

Historicamente as grandes crises politicas que resultam de enfrentamento entre Poderes da Republica tem trincheiras de defesa, o poder atacado se defende com todas suas armas politicas.

Não se vê no atual processo de julgamento no STF, que tem ingredientes para gerar uma crise cuja perda se dará no prestigio do PT, um fiapo, por minimo que seja, de defesa do Governo, perdedor final e do Partido, perdedor primario. Quem são os artilheiros do situacionismo ou do oficialismo, como se fala nos paises ibéricos? Não há nenhum. A primeira trincheira de qualquer Governo em crises politicas é o principal Ministro politico, no Brasil pela tradição é o Ministro da Justiça. A segunda trincheira é o Ministro do Palacio ou da Presidencia, no Brasil, o Chefe da Casa Civil.

Tendo o Governo e o PT muitos representants no Congresso, mais ainda, tendo a Presidencia da Camara, todos deveriam estar todos os dias nos meios de comunicação defendendo dois ex-Presidentes do PT, um ex-Chefe da Casa Civil, um ex-Presidente da Camara. NINGUEM OS ESTA DEFENDENDO. É inédito na Historia da Republica. É uma luta com guerreiros de um só lado.

A acusação dentro e fora do STF está tendo um passeio. Avança sobre territorio aberto, como o Marechal von Manstein invadindo a França em Maio de 1940, esta Republica nem parece que teve

grandes tribunos apaixonados e lutadores nos anais do Congresso e do Governo. Estão todos apaticos, aparvalhados, mudos, acossados, escondidos, vendo cairem as bombas e entrarem os tanques, como os parisienses em Junho de 1940.

Há enormes falhas e inconsistencias na acusação e no voto do Relator, o Governo deveria ter uma tropa de choque para na midia apontar esses pontos, podem sensibilizar a opinião publica e o julhamento, operações erradas como fez o Rural já foram feitas as centenas em outros bancos ou será que os bancos só fazem operações totalmente garantidas? Os bancos emprestaram R$5,7 bilhões ao Grupo Rede, e foram os melhores bancos do Pais, estão esses emprestimos garantidos?

Pelo que o mercado sabe, não ou a garantia é muito inferior ao débito. Os bancos provisionaram no ultimo balanço semestral R$33 bilhões para eventuais prejuizos nas suas carteiras de credito. Se todos os emprstimos tivessem garantias, como pretende o Ministro Relator, para que provisão para prejuizos? As regras do BC não exigem que na concessão de emprestimos se observem regras de lastro e de solvencia para dar emprestimos? Pois os dirigentes do Rural não estão sendo condenados porque não observaram essas regras? Não é assim assim que funciona o mundo real. Os bancos fazem sim emprestimos com garantias fracas ou emprstimos "clean" sem garantia, baseados apenas na assinatura do devedor, se assim não fosse não existiriam crises bancarias como as de 2008.

Sem contrapontos, asacusações ao PT e as respectivas condenações deicarão o partido mal. Ninguem fala nada e tudo passa como verdadeiro na midia. O que as defesas dos reus disseram ninguem lmebra, fica nos autos. O que vale é que saiu na midia e esse espaço na defesa está vazio."

http://www.advivo.com.br/node/1034324