25 de agosto de 2012

DIÁRIO DE CAMPANHA


DIÁRIO DE CAMPANHA


Laerte Braga


Boa parte da opinião pública é formada pela mídia. Da mesma forma que um pastor evangélico é capaz de domar um rebanho dócil e ludibriado em sua fé, muitas vezes produto da desesperança e não do ato consciente – direito legítimo – de professar uma crença, a mídia manipula, distorce e conduz. Tem muitos instrumentos para isso.

A televisão é a grande vilã desse processo e com uma peculiaridade. A maior rede de tevê do País, que é parte de um complexo de informação que envolve rádios, jornais e revistas e tem forte presença de capital estrangeiro, se sobrepõe a partidos, governo (e governo envolve executivo, legislativo e judiciário), pauta o País.

Uma situação dessas é impensável nos Estados Unidos, por exemplo. O monopólio disfarçado, mas nem tanto, da comunicação. Vem desde os tempos da ditadura militar, nasceu para a ditadura, conviveu com a ditadura e se coloca de fato à margem do processo democrático. Ou melhor, engessou o processo democrático.

Os que sobram são os veículos regionais ou municipais, muitos deles livres dessa ditadura midiática. Ela é arrogante, ela dita regras e não admite ser contraditada. E tem partido. É deslavada defensora da moralidade pública, mas devedora dos cofres públicos. Envolvida em fraudes na apropriação de uma rede de tevê em São Paulo e capaz de levar a presidente da República a ensinar como fazer panquecas num dos seus programas matinais.

Tem a concepção que o cidadão comum é um idiota (definição de um dos seus astros preferidos) e engole qualquer notícia. Vende um modelo que na aparência critica as cidades entupidas de automóveis estrangeiros (não temos um carro nacional, só de montadoras estrangeiras fartamente beneficiadas pelo governo atual), mas é ferrenha defensora da “livre iniciativa”, não move uma palha contra o “pacote de bondades” da presidente Dilma Roussef ao chamado setor produtivo.

É implacável com o servidor público. Silenciosa diante da privataria tucana, pois cúmplice.

Andar pelas ruas de uma cidade em campanha eleitoral nos faz ter uma percepção mais clara ainda desse processo de alienação imposto pelo que Nélson Rodrigues diz que “acabou com a janela”. A televisão.

É impressionante o esforço para os quinze segundos de glória que a tevê proporciona e que acabam se tornando a história de vida de uma pessoa, um partido, um grupo.

Mamãe olha eu aqui!

Os problemas de um município como Juiz de Fora são definidos por uma rede de tevê – no grosso da informação – e segundo sua ótica e seus interesses. No caso é como se fora a invasão de um grupo de alienígenas (os controladores não têm nada a ver com a cidade que não seja sugar). Têm até candidato disfarçado de “amo Juiz de Fora”.

É significativo que o restante da mídia da cidade se comporte de forma diversa. Seja o oposto do gigante de apetite pantagruélico que devora as entranhas do ser e uniformiza todos segundo um padrão sombrio e maquiado de uma realidade que não existe.

Ou por outra, acaba sendo a realidade. Imposta na voz suave, ou às vezes “indignada” pelo nada, mas silente diante das grandes trapaças, das quais é parte, ou tem esse silêncio comprado.

As pessoas começam a perceber que existe algo maior e mais importante que a verdade televisiva. Ou o padrão ditado por um grande dinossauro, algo que emergiu das catacumbas de Wall Street na genética do capitalismo. Predador. Se espalhou pelo mundo, pelo Brasil então...

É interessante ver e ouvir, participar de protestos de servidores públicos federais, estaduais e municipais, de trabalhadores da iniciativa privada contra a marcha neoliberal do governo de um PT desmanchado e que deixa órfã a militância que resiste à perda da história do que um dia foi chamado de partido diferente. Faz parte hoje do clube de amigos e inimigos cordiais. Aquele que joga a farsa do eu sou melhor você é pior e vice versa e à noite jantam juntos longe das cavernas onde enterram e apagam a luz da democracia popular.

O Estado brasileiro é laico. Ao contrário do pensam algumas mentes tortuosas padrão Edir Macedo, Silas Malafaia, os milhares de pastores bonifácios vida a fora, o Estado laico é a garantia do direito à fé.

A garantia das diferenças entre seres humanos, mas a certeza da preservação da espécie humana. Não de robôs ou zumbis a cantar e gritar na ilusão que assim ganham reinos eternos de belezas infindas e dulce far niente.

Servidores públicos protestando contra o governo do PT. Inacreditável? Não. Inacreditável é o PT com cara e jeito de PSDB, numa indigesta mistura que termina sendo PTSDB.

Dilma Roussef joga fora partido, sua própria história e desmancha os serviços públicos vendendo através desse dinossauro midiático a idéia que são os servidores os responsáveis pelas dificuldades econômicas e financeiras do governo.

Servidores públicos são os responsáveis pela saúde, pela educação, pela segurança, pela estrutura administrativa do Estado, pela cultura, por todo o significado da organização institucional que regula a vida de cidadãos de um país e que neste momento se mostra falido, pois em marcha batida e com passos de gansos para o altar do deus mercado.

Tudo vira lucro, uma reedição de Midas.

Os altares estão sendo entronizados em todas as cidades sob as mais variadas formas nos mais arrojados modelos de automóveis. Já substituem companheiros e companheiras nos lares, ganhou status de família, ou centro das famílias.

E dizem que comunistas matam idosos e arrancam crianças dos seios de suas famílias. Não existe o SUS privatizado nos países comunistas e a educação é primordial na construção do ser humano, na preservação da liberdade e das características básicas desse ser.

Segundo Millôr Fernandes a propriedade privada se instalou quando um dos primeiros seres a habitar o planeta saiu da sombra onde se abrigava embaixo de uma árvore e ao voltar outro havia ocupado o lugar e demarcado o seu terreno a poder de borduna.

O que as pessoas querem, mesmo as que não querem se é que me entendem, é o resgate da dimensão humana. O reencontro com a vida em seu sentido e sua essência. O amor, a paz, a construção coletiva. Para além disso só esse ruído longínquo mas próximo de nós, das bombas que são despejadas sobre idosos, crianças, mulheres, homens, na busca do petróleo e da água a qualquer custo, na primazia do país que “deus” criou para guiar o mundo. Opinião de Milt Romney, um milionário norte-americano e agora candidato a presidente daquele país.

O reencontro com a realidade maior de cada um. A cidade. Não importa qual seja. Todas as cidades. A primeira realidade do ser vivente e bípede até prova em contrário.
E não se constrói a cidade sem a participação popular, sem ouvir as pessoas, sem fazer com que as pessoas sejam as principais protagonistas do desenho físico humano de uma cidade em todas as suas necessidades e direitos, que na prática são anseios justos transformados em tais, direitos.

Fora disso é o cara do bigodinho se apropriando das obras alheias e se apresentando como salvador que desceu á Terra após quarenta dias em forma de menino pobre e de “eu sou homem”.

Todos somos homens ou mulheres, não importa de que forma ou jeito façamos as nossas vidas, importa que possamos fazê-las e nos reconhecer no outro por diferente que seja.

Eu e muitos que conheço, outros que estou conhecendo somos humanos, queremos continuar a ser, por diferentes que sejamos, nos reconhecendo nesse outro e percebendo esse outro.

Fora disso, o “eu quero é fazer”, ou “eu vou fazer”, é apropriação indébita da coletividade que é quem faz.

CIDADE CAMARADA é isso aí. Pássaros voando por sobre os dinossauros, beijando flores, construindo ninhos, pousando juntos sobre fios, árvores, voando em bandos numa revoada de solidariedade, de harmonia, de amor, de diferenças, mas de vida em sua essência e em sua razão de ser.    

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