14 de novembro de 2011

A Deus o que é de Deus e a César o que é de César

Perfeita a linha de pensamento de Vange Leonel sobre as polêmicas entre igrejas e movimento GLBT.
Em blogues, ditos progressistas, em mensagens no Twitter e outras mídias sociais o que abunda é o reforço de discursos intolerantes e preconceituosos,quando se dá destaque ao um discurso rançoso que está na contra mão da história da humanidade, Colocam, com suas críticas e piadinhas, em evidência pastores e/ou padres que, por trás do discurso religioso, querem ver seus nomes em destaque diariamente com outros interesses, como os apontados no texto da Vange Leonel, ou pretensões político eleitorais.
Reações raivosas às bobagens ditas por esses pastores midiáticos geram ódios e mais preconceitos contra o movimento GLBT e contra pessoas que, mesmo defendo os direitos individuais de todo cidadão, homo ou hetero, são equiparadas a preconceituosos e intolerantes.
Que ninguém critique a opção ou orientação sexual de nenhum cidadão brasileiro ( desculpem se o termo é o ou não o correto), mas que ninguém critique também a opção ou orientação religiosa de nenhum cidadão brasileiro.
Viva e deixe viver.


Saindo da sombra

Este discurso homofóbico e moralista por parte de vários líderes de igrejas não passa de cortina de fumaça para desviar os olhares públicos daquilo que realmente interessa: a Igreja como empresa lucrativa.

Por Vange Leonel na Revista Fórum
Falsas assimetrias são sempre um perigo. Elas colocam em dois polos contrários conceitos que não estão, necessariamente, em oposição. Fico preocupada, em particular, com uma suposta guerra entre religião e LGBTs, iniciada por grupos fundamentalistas dentro e fora de suas igrejas. Esta é uma batalha desigual e, por isso, penso não ser uma boa ideia comprarmos esta falsa polarização.
Obviamente sabemos que católicos puniram homossexuais em seus tribunais de inquisição e que fundamentalistas religiosos ainda insistem em demonizar LGBTs. Mas é verdade também que existem correntes progressistas e inclusivas na maioria das religiões organizadas. Ou seja, posso provar que esta dicotomia religião/LGBT é falsa pela simples constatação que há religiosos pró-LGBTs e existem também LGBTs religiosos. A meu ver, a insistência em colocar essas duas categorias numa oposição irreconciliável é extremamente prejudicial, principalmente para os movimentos homossexuais.
Ateísta e lésbica, eu admiro muito a teóloga feminista Ivone Gebara, que é a favor de uniões homoafetivas e da descriminalização do aborto. Gebara faz críticas contundentes à Igreja Católica a que pertence e, como teóloga, pode fazê-las melhor que eu, uma leiga. Por que deixaria de lado uma valiosa aliada como ela? Por que, insisto, opor LGBTs e religião apenas porque um punhado de religiosos homofóbicos vitupera teses medievais a respeito de sexualidade, aborto, camisinha etc?
Este discurso homofóbico e moralista por parte de vários líderes de igrejas não passa de cortina de fumaça para desviar os olhares públicos daquilo que realmente interessa: a Igreja como empresa lucrativa. Recentemente, o Ministério Público Federal acusou o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, de lavagem de dinheiro e estelionato contra seus próprios fiéis. A bispa Sônia, líder da Igreja Renascer em Cristo, viu-se obrigada a fechar 70% de seus templos depois de enfrentar processos na Justiça por formação de quadrilha e estelionato.
Assim, prefiro combater estas igrejas-empresas (que abusam de uma retórica homofóbica) pelos seus malfeitos financeiros. Não tenho bagagem, estofo ou vontade de discutir o cerne de suas crenças. Como disse acima, prefiro delegar esse tipo de crítica a teólogos dissidentes, capazes de fazê-la com mais propriedade. Além disso, há um efeito colateral perverso quando se rebate repetidamente ataques religiosos homofóbicos: quando respondemos que “não somos pervertidos”, “não somos doentes”, “não sofremos de desvio de comportamento”, acabamos reforçando a analogia nefasta “gay/pervertido/doente”, em vez de apontar para o que há de libertário na luta LGBT. Quem rebate todo tempo acusações deste tipo permanece sob a sombra úmida da vitimização.
Ressalto que a homofobia de cunho religioso deve ser denunciada e punida, mas acho contraproducente insistir na tese “religião é contra gays”. Mesmo dentro dos movimentos homossexuais há vertentes religiosas. E grupos – como o Católicas pelo Direito de Decidir – lutam há anos ao lado de movimentos feministas e LGBTs.
Em vez de ficar na defensiva, encurralada nas cordas pelo proselitismo moralista e hipócrita, prefiro me empenhar numa agenda positiva. Somos vítimas de homofobia secular e religiosa? Sem dúvida. Mas não devemos ficar imóveis na posição de vítimas. Temos muitas outras posições para explorar.

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