4 de outubro de 2011

Explo 2011



FIM DE SEMANA ESPLÊNDIDO EM SÃO PAULO. PERFEITO PARA A PRÁTICA DA ROLETA-RUSSA NO CENTER NORTE

A coisa é bem simples no Center Norte. Pode acontecer tudo. Até nada. Mas pelo menos sabemos quem é o responsável pelo tudo ou nada: o prefeito Gilberto Kassab.
Haverá quem diga que o shopping não fechou por conta de Emilio Migliano Neto, juiz da Sétima Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que concedeu liminar para o Center Norte, ameaçado de interdição pela prefeitura até sexta--feira, continuar recebendo os incautos consumidores. Neste esfuziante sábado de sol, o shopping explodia de gente. Mas há perguntas no ar.
-- Diante de caso tão extremo, a Prefeitura não deveria recorrer? --pergunto para advogada Tânia Liz Nogueira.
Ela não titubeia:
-- Deveria recorrer, sim. Trata-se de risco à coletividade. Mesmo com o prejuízo de comerciantes e funcionários. Trata-se da proteção à vida, saúde, à incolumidade física dos cidadãos.
E arremata:
-- A decisão é recorrível. Não tenho conhecimento dos autos, mas se foi concedida uma liminar em primeira instância, então cabe recurso.
Você leu em algum lugar que a Prefeitura entrou com algum recurso? Tudo muito conveniente. Cheira a um grande acordo entre os “seres superiores”.
Fazendo-se de João Sem Mão, escudando-se na decisão da Justiça, Kassab de certa forma reedita a liberação das praias de Amity, a cidade fictícia de Tubarão, que levou o nerd Steven Spielberg aos píncaros da glória cinematográfica.
Pressionado pelo prefeito Larry Vough (Murray Hamilton), o xerife Brody (Rod Scheider), deixou que os turistas invadissem Amity em 4 de julho, o feriadão em que a cidade bombava, mesmo tendo quase certeza que havia no mar um monstro à espreita.
O monstro de Spielberg é de poliuretano e tem 7 metros de comprimento. Parece um submarino. A cabeça é impressionante. Sua bocarra abre e fecha como uma gigantesca armadilha de urso.
Até outro dia o Center Norte era apenas um templo do consumo com números fantásticos: 331 lojas, movimento diário de 100 mil pessoas, maior volume de venda por m2 entre todos os empreendimentos da cidade, milhares de funcionários.
Virou monstro de concreto quando a Cetesb revelou, sem meias palavras, que existe ali risco de explosão: foi construído -- acredite se puder -- na área de um lixão, que libera o gás metano, inflamável, pelas trincas do piso.
Veio com tudo a lembrança das cenas de horror no Osasco Plaza Shopping: na véspera do Dia dos Namorados de 1996, 42 pessoas morreram,472 ficaram feridas na explosão causada pelo vazamento de gás de cozinha no subsolo do edifício.
No caso do Center Norte, com a tragédia à espreita, as autoridades ambientais aplicam uma módica multa diária – R$17.450 – enquanto a prefeitura aguarda a instalação de um “eficiente sistema de drenagem do gás”. Vamos fazer figa.
Tocando o horror? Veja de novo o Tubarão Aquilo não é nada.

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