Helenilda Lima e Avelina Martinez , duas militantes que estão na estrada há algum tempo. Se encontraram fazendo a campanha presidencial de 2006 no Orkut
No início de 2009, se conheceram pessoalmente no encontro da comunidade Rio Mobilizado, juntamente com outras militantes do Orkut.
Foi uma época de militância virtual agradável e proveitosa tanto na política como na vida pessoal. Ficavam horas se comunicando através das comunidades que participavam, articulando os discursos para rebater aos da oposição, trocando informações e confidências através do MSN.
Em 2009 um grupo impôs eleições na comunidade do Orkut Apoiamos Lula, que havia sido "roubada". Um grupo de pessoas com idéias, um pouco estranhas, sobre como deveria funcionar uma comunidade impôs essas eleições. Formamos um grupo coeso e eficaz para participar das eleições para dono e moderadores dessa comunidade e, com muito trabalho e eficiência, conseguimos eleger o grupo que apoiávamos. Conheça essa história aqui.
Foi uma época boa e um bom ensaio para a militância enfrentar a campanha presidencial deste ano. Deu certo, pois Dilma venceu com a intensa participação deste mesmo grupo, mesmo que em frentes diferentes.
A Helenilda e a Avelina, incentivadas por esse grupo de militantes participaram do concurso de contos e crônicas organizado pelo Partido dos Trabalhodres em comemoração aos seus 30 anos. Os textos foram escritos e submetidos a apreciação desse grupo de amigos virtuais . Se inscreveram no concurso e os textos foram classificados entre os 10, que deveriam ter sido publicados pelo PT, mas até agora não o foram.
Depois de trabalhar muito para eleger Dilma presidente, Helen e Avelina resolveram postar os textos como uma forma de agradecimento ao trabalho de toda a militância nestas eleições.
Vamos a eles:
O bêbado e a petista
Eram as eleições municipais de 1992.
Aqui em São Paulo, nosso candidato era o Eduardo Suplicy. O concorrente mais bem colocado nas pesquisas era o Paulo Maluf.
Tempos difíceis aqueles para a militância. Comprávamos as estrelas do partido, as camisetas e disputávamos o material de divulgação que era pouco, não dava pra todo mundo.
No meu bairro, havia uma figura conhecida por todos os moradores, por seus tombos e porres homéricos: falo do São Paulino. Andava sempre com a mesma camiseta surrada e ensebada do São Paulo Futebol Clube, daí vinha o apelido, pode perguntar pra qualquer morador do bairro , não tem quem não saiba dele.
Era um bêbado simpático que conseguia, graças ao seu jeito amistoso, um café aqui, um almoço ali, uns trocos acolá para sua santa birita de todo dia. Em casa sempre passava pela manhã, ainda sóbrio ele me pedia:
“Bom dia corinthiana, tem um café quentinho aí?”.
Eu dava o café e, para não perder a oportunidade, soltava o proselitismo político para o candidato do PT, acreditando que como ele andava pelo bairro todo, de casa em casa, levaria adiante a minha mensagem.
Na janela da frente da minha casa, um banner grande com a foto do Suplicy ficou exposto durante toda a campanha. Na garagem, uma velha Toyota exibia no vidro traseiro um adesivo do Timão.
No dia da eleição, estava eu no portão de casa toda paramentada, com minha camiseta, minha bandeira, meus santinhos para fazer a boca de urna quando, no alto da rua quem é que me aparece?
O São Paulino.
Tropeçando nos próprios pés com uma enorme bandeira do Maluf em punho, gritando a plenos pulmões:
“É Maluf prefeito, já ganhou, já ganhou!”
Esperei que se aproximasse para encará-lo e perguntar por que justamente o Maluf, ora essa.
Vestido com uma camiseta do Maluf, ainda carregava metade do lanche que havia recebido dos coordenadores da boca de urna do nosso adversário, os trocados com que devem ter-lhe pagado, na certa, já os havia torrado – ou melhor, ‘mamado’.
Cheguei o mais perto que seu bafo me permitia e tratei de argumentar o quanto ele estava equivocado, dizia que Maluf tinha um histórico de desonestidade e que nada faria pela cidade de São Paulo, muito menos por ele. O São Paulino tratou de defender sua recente adesão partidária, dizendo que o Maluf, pelo menos, havia-lhe dado aquela camiseta, dois lanches, cinco reais e, ainda receberia, mais cinco no fim do dia .
– “E o seu PT o que é que ele me dá?”.
Rebati seus argumentos, dizendo que aquilo era só enrolação, ele dava essa esmola no dia da eleição para que depois pudesse roubar cada tostão do povo como prefeito, etc etc etc.
O confuso São Paulino parou, mediu de alto a baixo o banner do Suplicy na janela da sala, olhou para o vidro traseiro da velha Toyota e disparou:
-“Tu não sabe de nada.
Tu é uma perdedora.
Teu time não ganha o campeonato, teus candidato não ganha eleição e você quer que eu acredita nessa tua conversa mole?
Eu não violão.”
Atônita, olhei bem para o São Paulino e despejei:
- “É, São Paulino, sabe que você até que está com a razão, mas de agora em diante faz um favor pra mim, quando quiser café vai bater na porta do Maluf pra ver o que você ganha”.
Passados dezessete anos desse episódio muita coisa mudou neste país:
o Maluf já não mete medo a ninguém. Até dormiu algumas noites no xilindró.
O PT já não financia suas campanhas só com o dinheiro das camisetas e das estrelinhas. Nem a militância é tão aguerrida, a ponto de querer convencer até o bêbado do bairro, vejam vocês.
E o Corinthians que não ganhava título algum, agora ganha um atrás do outro, é campeonato paulista, é copa do Brasil, e no ano que vem vai fazer bonito na Libertadores, podem escrever.
E o São Paulino?
Então, o São Paulino ainda anda pelo bairro, só que menos trôpego e um pouco mais gordo.
Casou, virou pai de família, tem três filhos o sujeito, que ele faz questão de levar para a escola todos os dias. Já não vive de pedir um café aqui, um almoço ali, come todos os dias, faz as três refeições, graças ao maior programa social que este país já teve: o Bolsa Família. Do Lula. Do PT.
Agosto de 2009
Avelina Martinez Gallego
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PT EM SEIS ATOS – A CRÔNICA DE UMA MILITÂNCIA
Ano de 1989. A teoria e a práxis da militância de então eram diferentes do que é feito hoje: havia nos passos de cada um a história de movimentos, como o Maio de 68, ou seja a adrenalina da ideologia e da convicção. Nada de maria-vai-com-as-outras! Mobilização que contagiava adultos e crianças, pela esperança que ainda ribomba forte em nossos peitos.
Minha filha Mariana, então com três anos, já era uma PTzinha de linha de frente.... Ia aos comícios, carreatas, bandeiradas! Comício de Lula em Brasília? Lá estava Mariana. Juntava-se aos seguranças e se dizia “segurança do Lula”. No transporte escolar? Fazia campanha para “o Lula”. A irmã caçula, Juliana, com apenas 1 ano e meio, também participava de todo esse entusiasmo, que vinha dos mais longínquos recônditos da alma. Pedia colo a sua mãe e sua mãe dizia: “Collor, não!”. Então, ela retrucava: “Me dá Lula, mãe!” Passou a eleição. Lula perdeu. A “tia” do transporte escolar ligou para casa da mãe para saber como estava a Mariana. Sabia que ela estava triste, pela alta voltagem de seu envolvimento com os adultos e o tempo todo com as outras crianças. Mariana Militante. Para sempre.
II - A LUTA CONTINUA!
Chegamos ao ano de 1992. O Brasil foi às ruas pedir o impeachement de Collor. O então presidente-caçador-de-marajás pediu que a população brasileira se vestisse de verde e amarelo. O Brasil se vestiu de preto e roxo. Fomos todos para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, participar do movimento Fora Collor. A certa altura de nossa patriótica andança, alguém disse que iríamos, todos, à Casa da Dinda. Por volta do meio-dia, Juliana, já com três anos, quase quatro, sentiu fome. Sua mãe disse: “vamos almoçar na casa do... Collor!. À frente, com o comando do movimento, estavam Mariana e Juliana. O comando da mobilização pedia calma. Avançávamos em direção à casa do Color. Paramos no portão. Mariana já tinha 6 anos e não tinha se esquecido que aquele Collor tinha ganhado do Lula. A plenos pulmões, gritou “fora Collor”. Muita polícia e parrudos cachorros. Clima pesado como chumbo. Mariana e Juliana cara a cara com os cachorros. Juliana, então, perguntou: “Nós não vamos entrar?” (ela queria almoçar). Sua mãe disse: não e não!, aqui só tem ladrão!. Voltamos para casa. Juliana almoçou. Sua avó ligou e Juliana disse: “vó, fui numa casa que só tinha ladrão”. Minha sogra me chamou ao telefone e assustada perguntou onde eu tinha levado as meninas. Respondi: à casa do Collor!.
III – MARIANA E JULIANA CARAS-PINTADAS
Já estamos em 1994. Juliana tem seis anos. Eleição no Distrito Federal sempre foi polarizada: PT versus Roriz. Nesse ano de 1994, o candidato apoiado pelo Roriz era Valmir Campelo. Juliana estava em alfabetização na escola. Ela chegou em casa e contou para sua mãe que a professora havia pedido exemplos de palavras escritas com a letra “L”, mas que tivessem som de “U”. Juliana sapecou: “Mãe, só lembrei de Valmir, mas não tive coragem de falar!”. Sua mãe respondeu: Fez muito bem, minha filha! Isso não é coisa que se ensina a ninguém! O candidato do PT ganhou a eleição para o Governo do Distrito Federal. Enfim, vitória. Resgate de autoestima. Resgate de cidadanias ultrajadas. Esperança a caminho.
IV – LÁGRIMAS ROLANDO, MAS ESPERANÇA REDOBRADA
1998. Oba! Eleições de novo! O governador do PT se candidatou à reeleição no Distrito Federal. E...Mariana e Juliana firmes na campanha. Juliana com 10 anos e Mariana com 12. Meninas bonitas, enfeitadas, da cabeça aos pés, com as cores do Partido. Juliana ia fazer a Primeira Comunhão. Levei-a à Igreja para se confessar. Aguardo-a. E Juliana reza, reza... Quando, enfim, terminou, perguntei: Filha, por que demorou tanto? “É porque pequei, mãe”. E continuou: “E o padre me deu uma penitência. Tive que rezar três Ave Maria e três Pai Nosso”. A mãe pergunta, compungida: E qual foi o seu pecado? “Eu desejei a morte do Roriz”. Ri e respondi: filha, esse padre é petista, porque desejar a morte de alguém e ter só isso como penitência!
Logo de manhã perguntavam-me qual era a agenda dos candidatos do PT. Se Mariana e Juliana tivessem alguma atividade escolar na parte da manhã, já diziam logo: “Mãe, não vou pra aula, hoje”. E prosseguiu: “Tenho que trabalhar na campanha!”. Resultado: até falar em carro de som Juliana falou. E foi para o corpo-a-corpo: pediu às crianças que falassem com seus pais para votarem no candidato do PT, “por Brasília, pelo bolsa-escola”. Por muito pouco não ganhamos aquela eleição. Mariana e Juliana choraram muito. Muito mesmo. Para desespero ainda maior da mãe.
V – A ESPERANÇA VENCEU O MEDO E A FALTA DE OUSADIA
2002. Ano emblemático. Mariana tem 16 anos e vai votar pela primeira vez. Como toda adolescente, tem várias facetas culturais: canta... músicas da Xuxa, transforma-se em cantora de rock, e, por fim, adapta-se a música country! Em comícios, campanhas de rua, panfletagens, bandeiraços e carreatas, lá estava Mariana de chapéu, cinto com grande fivela e botas!. No coração, entretanto, um desejo incontido. Um desejo que vinha de longe, que atiçava suas veias, apontando para uma chuva multicolorida de novas possibilidades, de esperança. É que Mariana agora ia exercer o seu direito ao voto, pela primeira vez. E o outubro ficou na História, mas mais ainda na história de Mariana, Juliana e da mãe delas. LULA É ELEITO O PRESIDENTE DO BRASIL. Lágrimas entrelaçadas com risos em todos os decibéis, sorrisos e abraços, gritos. Era a vitória há tanto tempo esperada que lavava, de uma vez por todas, a alma dessas três pessoas e de mais da metade do Brasil, sempre esquecida pelos poderosos.
VI – JULIANA VOTA NA CONSAGRAÇÃO
2006. O compromisso agora é reeleger o Presidente Lula para que o Brasil continue seguindo em frente. Nova luta se trava em todos os chãos, ruas, rincões. O vermelho tingindo o Brasil de ponta a ponta. Chega o dia da eleição e o PT ganhou mais um voto. O de Juliana. Dessa vez o voto é dela, só dela. Ela entrando sozinha na cabine e ficando frente a frente com a urna. É que, quando pequenina, sempre votava... com a mãe ou avó. E... a eleição vai para o segundo turno. A música que embala esse momento é “deixa o homem trabalhar”. LULA É REELEITO com mais de 58 milhões de votos, porque “somos milhões de Lula povoando esse Brasil”.
Eu e minhas filhas Mariana e Juliana talvez sejamos as três mulheres mais felizes entre os milhões de mulheres petistas, que ajudaram a construir o Brasil sustentável. Somos três mulheres vermelhas.
Agosto de 2009
Helenilda Lima
5 comentários
Avelina, minha companheira!
Agradeço por postar em seu blog a nossa história de militância dentro do Partido dos Trabalhadores!
Agradeço por termos atuado juntas em momentos decisivos - proteger e preservar o espaço, que tinhamos certeza de seria importante nesta eleição de 2010, a Comunidade Apoiamos - e todos sabemos como ela foi quão ela colaborou com a eleição de Dilma Presidente, nós a defendemos juntamente com outros companheiros.
Somos "Amigas por culpa do Lula"
beijo grande
Helen,
essas histórias são lindas demais para ficar esquecida numa gaveta qualquer. Não são as crônicas somente, mas toda a efervência de um grupo de militantes que dedicou muitas hs. do seus dias desde a eleição do Lula e que continuou nos últimos 4 anos, defendendo o gov.Lula e se preparando p/eleger Dilma. É muito difícil para outras "militâncias" entender essa paixão.
Mas nós entendemos.
eu me divirto lendo essas cronicas politicas. Muito interessante o seu blog. Estou aqui lhe convidando a visitar o meu blog, e se possivel seguirmos juntos por eles estarei grato esperando vc, lá
Abrass
www.josemariacostaescreveu.blogspot.com
Nós, petistas, adoramos ler as histórias da militância, sempre carregadas de paixão e emoção. Vale à pena toda dedicação, toda lágrima derramada, toda forma de amor por esta causa política. Causa esta que envolve o interesse coletivo e que nos enche de esperanças por um mundo mais justo, mais igualitário, mais humano. Parabéns, companheiras! Belo trabalho o de vocês! Saudações petistas, Vanessa Ottoni.
Vanessa
nós adoras contar essas histórias da militância. São muitas e, tenho certeza que todos tem uma, ou mais, para contar.
Obrigada por ler nossas histórias, isso nos dá ânimo para continuar nossa luta por esse mundo mais justo e igualitário com que sempre sonhamos.
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