25 de janeiro de 2009


: A CRISE ECONÔMICA


Felipe Duque;
Dono da comunidade “Recife e Olinda Mobilizados”

A recém-parida crise econômica, que já se enveredou na economia real, dispensa maiores comentários acerca dos efeitos da doutrina iniciada por Reagan-Thatcher. Entretanto, analisando um pouco mais a fundo essa política econômica, percebemos que diversas crises camufladas já se manifestavam sempre à surdina, e esta nossa de agora é apenas um cruel e esperado desfecho da desregulamentação financeira.

A começar por uma contradição do neoliberalismo. Uma das premissas do livre, leve e solto mercado é o déficit ou superávit comercial nunca prolongado, ou seja, equilíbrio da balança comercial. Assim funciona: caso o déficit tenha crescido muito rapidamente e esteja muito agudo, a moeda local se desvaloriza por causa da diminuição da quantidade de moeda estrangeira no poder do Estado. Assim, as exportações são incentivadas quase que mecanicamente, o que inverte o fluxo e assim aconteceria eternamente. Contudo, não se pensava que, agora, dois terços dos fluxos de capitais entre países sejam entre matriz e filiais ou entre a mesma empresa. Resta apenas um terço dos fluxos, o que inevitavelmente retarda esse autocontrole do mercado. Com isso, a prerrogativa de o mercado se auto-regular esvanece-se.

Agora vamos ver a serviço de quem a mão invisível trabalha. Quando o México se juntou à Nafta, em 1994, o índice de pessoas abaixo da linha de pobreza era de um terço, ainda muito alto. Três anos se passaram desde então, e esse índice subiu ainda mais, para estonteantes 52%, sem contar que o incipiente mercado cinematográfico e artístico mexicano sucumbiu diante do poderio avassalador da cultura estadunidense. Vemos agora que o capital não se divide por osmose, como acreditam veementemente os defensores do liberalismo.

Passemos agora a uma das mais graves influências desse sistema autodestrutivo. Antes da mundialização da tecnologia digital, da informática principalmente, o trânsito de capitais era determinado decisivamente pelo processo produtivo, ou seja, estava restrito ao trabalhador/empregador. Com o advento da informática e da rápida difusão de informações, o fluxo desses capitais começou a se distanciar do trabalho acentuadamente, o que proporcionou uma relação de subordinação deste em relação àqueles. Em outra palavras, o capital começou a mandar no trabalho, viramos reféns de meia dúzia de investidores, que procuram lucro imediato a todo custo. Como conseqüência disso, o desemprego conjuntural agora significa lucro aos ávidos caçadores de capital, visto que há redução de gastos na empresa, o que proporciona mais lucros. No ano de 1995, a Holanda experimentava os sabores do neoliberalismo e se orgulhava de ter os mais baixos índices de desemprego no mundo, algo em torno de 6%. Entretanto, o que ninguém sabia era que 800.000 pessoas haviam sido declaradas inválidas ao trabalho pelo Estado holandês. Sem esse subterfúgio, os 6% se transformariam em 20%. Nos EUA, em 1993, o número de pessoas desempregadas chegou a 10,1%; na Inglaterra, o maior esforço de Thatcher para acabar com o desemprego foi mudar 32 vezes o sistema de contagem entre 1979 e 1997, por isso não se têm dados confirmados, mas estima-se que, em 1997, o número chegasse a 5,7 milhões de desempregados. Vemos que a magia do pleno emprego só existe em conto de fadas mesmo.

Todo esse quadro leva, peremptoriamente, à degradação do homem, com resultados catastróficos, como aumento de número de suicídios, baixa auto-estima, piora nas saúdes mental e física. Por isso temos que combater essa retrógrada política econômica que, paradoxalmente, diz-se neo. A economia deve voltar-se ao homem, e não a si mesma. A partir do momento em que ela se torna o meio e o fim, a situação começa a se tornar insustentável

3 comentários

Blog do Orpham

Felipe, Parabéns! Seu texto é impecável e me dá esperança que mais jovens como você se interessem de fato pela política.

índia kaapor

que aula!!!
obrigada por me explicar as coisas dessa forma inteligente e objetiva. agora, sei mais um pouco!

Beto Mafra

Peremptoriamente: Esse menino é da porra!

Parabéns, Felipe.
Ter capacidade analítica é menos que tê-la e conseguir divulgá-la.
Se listarmos todas as conseqüências desse tipo de política, uma delas é a violência de que tanto reclamamos e tanto seduz a mídia.

Mas renovo esperanças ao ler seu texto.
Há vida inteligente brotando por aí.