Paulo Nogueira no DCM
O dinheiro compra até o amor verdadeiro. Entre tantas frases soberbas, esta é minha preferida de Nelson Rodrigues, o maior frasista brasileiro.
Ela me veio automaticamente à mente quando refleti sobre uma questão que vem fascinando muitos brasileiros: como uma mulher bonita e brilhante como Larissa Sacco foi capaz de largar tudo para ficar com o médico Roger Abdelmassih.
As pessoas ficam intrigadas porque pensam no Abdelmassih de hoje, envolto em denúncias de estupros em série que lhe dão a merecida reputação de monstro.
Mas o Abdelmassih que Larissa conheceu, em 2008, era um superstar, uma espécie de Mick Jagger da fertilização.
Ele era personagem ubíqua nas emissoras de televisão e nas páginas de jornais e revistas.
Tinha uma clientela de celebridades, e era aquele tipo de homem a quem não basta ser rico: os outros têm que saber.
Levava uma vida de ostentação, segundo os que o conheciam. Podia passar um final de semana em Paris, e era conhecido seu apreço por Mercedes pretas, paixão que afinal contribuiria para que ele fosse localizado no Paraguai.
Larissa era, então, uma mulher de 31 anos que desejava engravidar do namorado da época.
E que tinha, segundo as amigas, uma paixão por coisas caras, coisas potencialmente incompatíveis mesmo para seu bom salário de procuradora.
Abdemalssih era, em sua versão glamorosa de 2008, a resposta para todos os anseios materiais – e mesmo maternais — de Larissa.
Não bastasse isso, a mulher dele estava morrendo de câncer. O campo estava aberto, portanto.
Mesmo no Paraguai, com o marido em fuga, Larissa viveu num luxo muito acima de sua realidade de filha da classe média.
Abdelmassih foi, até recentemente, o meio pelo qual a ambiciosa Larissa pôde realizar seus sonhos de alpinista social.
Pelas características de ambos, entendo, contra a corrente, que não há mistério nenhum no casamento deles.
Sobre o que a levou a ele já falei. E o que o conduziu a ela é fruto da vaidade lúbrica –tarada mesmo — dele.
Uma mulher jovem, bonita, que ele podia ter e exibir ao mundo sem a necessidade criminosa de dopar em seu consultório, bem, tal mulher era um troféu extraordinário para Abdelmassih.
Tudo se encaixa na história, a meu ver.
Exceto uma coisa: o habeas corpus dado a Abdelmassih por Gilmar Mendes quando já se sabia que ele estuprara dezenas de mulheres de uma forma particularmente abjeta.
Me dei ao trabalho de ler a sentença completa de GM, lavrada em dezembro de 2009.
O ponto que mais me chamou a atenção foi o seguinte. Gilmar Mendes afirmou que, como Abdelmassih sempre se apresentara quando chamado pela Justiça no período em que estava em liberdade, não havia razão para temer que ele se aproveitasse do habeas corpus para fugir.
Quer dizer: para o juiz, Abdelmassih tinha princípios morais que o fariam aceitar sua pena estoicamente.
No mundo encantado de Gilmar, Abdelmassih renunciaria a seus luxos, aos prazeres carnais proporcionados pela jovem mulher, à liberdade – a tudo, enfim, para obedecer à Justiça.
As vítimas de Abdelmassih manifestaram, nestes dias, compreensivelmente, ódio também de Gilmar Mendes.
O que deve confortá-las é que ele não sairá de todo impune neste caso: sua reputação estará para sempre manchada por uma das decisões mais absurdas da história da Justiça brasileira.
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