16 de agosto de 2012

Prefeito apoia saques e vira celebridade na Espanha


Prefeito apoia saques e vira celebridade na Espanha



Autor(es): Por Paul Day | Reuters
Valor Econômico - 16/08/2012
 

Um prefeito espanhol que se tornou um herói cultuado por organizar saques a supermercados e doar aos pobres os mantimentos levados inicia hoje uma marcha de três semanas que poderá constranger o governo nacional e energizar ativistas antiausteridade.
Juan Manuel Sánchez Gordillo, deputado regional e prefeito da cidade de Marinaleda - com uma população de 2.645 pessoas na região sul da Andaluzia -, disse que os alimentos roubados na semana passada foram para as famílias mais atingidas pela crise.
Sete pessoas foram presas por participar dos dois assaltos. Como membro do Parlamento regional da Andaluzia, Sánchez Gordillo, 59, tem imunidade política, mas diz que se disporia a renunciar ao mandato e ser preso. "Há pessoas que não têm o que comer. No século XXI, isso é uma desgraça", disse.
Membro da Esquerda Unida, uma coligação de partidos de esquerda, ele diz que quer chamar a atenção para a face humana da crise espanhola: os níveis de pobreza subiram mais de 15% desde 2007, um quarto dos trabalhadores estão desempregados e dezenas de milhares de pessoas foram expulsas de suas casas. O governo conservador diz que uma autoridade pública não deve desrespeitar a lei.
"Você não pode ser Robin Hood e o xerife de Nottingham", diz Alfonso Alonso, porta-voz do Partido Popular, no poder no Parlamento nacional. "Esse homem está apenas em busca de publicidade à custa de todo mundo."
A Andaluzia é uma das regiões espanholas mais atingidas pela crise: um em cada três trabalhadores está desempregado.
Hoje, Sánchez Gordillo iniciará sua caminhada partindo de Jodar, cidade com mais elevada taxa de desemprego na Andaluzia, planejando marchar por toda a região em meio ao sufocante calor do verão para convencer outros líderes locais a se recusarem a cumprir as reformas impostas pelo governo.
Ele pretende dizer a prefeitos que descumpram o pagamento de dívidas, cessem os despejos de moradores e ignorem as exigências do governo central de que implementem cortes orçamentários, uma mensagem que enfurece o governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy, que tenta convencer os investidores em títulos espanhóis de que conseguirá dar um jeito na economia em dificuldades.
A União Europeia exigiu que a Espanha reduza um dos maiores déficits orçamentários na continente para evitar que a crise da dívida se alastre. Rajoy, no poder desde dezembro, ordenou cortes de gastos e aumentos de impostos. Com a elevação da pobreza a uma das taxas mais rápidas na Europa, os protestos ganharam força.
Apesar do pequeno tamanho da cidade onde foi prefeito durante 30 anos, Sánchez Gordillo é há muito tempo uma figura marginal no cenário nacional, conhecido por criticar os partidos políticos tradicionais. Ele criou um sistema de agricultura cooperativa em Marinaleda e tentou repetidas vezes se apropriar de terras para a agricultura, sendo o mais recente alvo 1,2 mil hectares de terras pertencentes ao Ministério da Defesa.
Sua mensagem costumava atrair apenas escassos simpatizantes durante os anos de boom econômico espanhol, quando muitos trabalhadores rurais, especialmente na Andaluzia agrícola, trocaram os campos pelo lucrativo setor de construção civil.
Mas agora ele conquistou atenção bem maior, depois que o colapso de uma bolha habitacional obrigou milhares de trabalhadores não qualificados a voltar para as fazendas, enquanto o governo injetou, a fundo perdido, bilhões de euros de recursos dos contribuintes em bancos debilitados.
"Eles dizem que eu sou perigoso. E os banqueiros que cometeram fraudes e saíram ilesos? Isso não é perigoso? Os bancos que tomam emprestado do BCE a 1% depois revendem essa dívida aos espanhóis por 6%, eles não são perigosos?", pergunta ele.

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