9 de setembro de 2011

O ronco da Internet que os políticos não sabem decifrar


Vimos na internet, Facebook, Twitter, etc., manifestações variadas sobre as marchas contra a corrupção realizadas no dia 7 de setembro.
Algumas rizíveis tentando associar as manifestações a protestos contra o governo federal. Outras, para defender o governo federal dos ataques de oportunistas, desqualificando totalmente as manifestações. Vimos ainda manifestações maniqueístas e simplificadas que dividiam o mundo em duas partes, os bonzinhos e os mauzinhos. Quem aponta a manipulação de oportunistas que pegaram carona nas manifestações ( partidos de oposição fracassados, mídia golpista e mariposas que não podem ver uma lâmpada) é chamado de corrupto, pois quem se coloca contra as manifestações seria, também, corrupto.
É desesperador ver a simplificação de movimentos que, mesmo começando sem muita clareza de objetivos, tem que ser vistos com seriedade e com muita atenção.
Na cauda desse cometa que passou pelo país no dia 7 de setembro, já começam a pipocar tentativas de contra-manifestações, equívocadas algumas e oportunistas outra.
Ninguém pode ignorar a indignação do povo de Brasilia com a absolvição da corrupta declarada Jaqueline Roriz, por isso estavam se manifestando os manifestantes de Brasilia. Ninguém pode discordar de manifestantes que foram às ruas para protestar contra deputados e senadores que não honram seus mandatos, dados por esse mesmo povo protestante.
Discordamos porém, que políticos tradicionais e partidos falidos peguem carona nessas manifestações para fazer oposição rasteira a um governo que está melhorando a vida dos mais necessitados.
Gostei, pela seriedade e clareza conceitual, da análise de Chico Barreira sobre as manifestações populares ocorridas no sete de setembro:


por Chico Barreira em seu blogO ronco da Internet que os
políticos não sabem decifrar

Vamos combinar que o projeto do PT é puramente um projeto de manutenção do poder e que a Oposição esfacelou-se com a obsolescência de seu discurso neoliberal decretada pela realidade crua da Crise Econômica Mundial. O que temos então? O vácuo.

Ou será apenas uma sensação de vácuo? Há dois dias, em paralelo com a parada do 7 de Setembro, 300 mil pessoas, ou mais, foram às ruas para dizer não à corrupção. No mesmo dia, A Conferência dos Bispos do Brasil, CNBB, levou para a mesmas ruas de todo País, pouco mais de duas mil pessoas, o seu “Grito dos Excluídos”.

Esta é uma conta que não fecha. A CNBB e seus gritos já foram um dos principais paradigmas da mobilização ideológica do Pais, Hoje, todos os bispos católico juntos formam menos opinião que dois ou três pastores protestantes chamados de “caça-níquel” do tipo Malafaia ou RR Soares.

É verdade que a franca decadência católica no Brasil se deve ao reacionarismo imposto pelo Papa João Paulo II e por seu sucessor que é apenas uma grotesca caricatura de pontífice. Mas este é apenas um e dos elementos do fenômeno, cujo núcleo central pode ser mais bem explicado pela falência das ideologias tradicionais ou mais usadas durante o Século XX.

Na coluna Para Entender a Crise do nosso blog, procuro dar uma explicação sucinta, com base na teoria econômica marxista, para esse fenômeno que aponta para o que chamo de Crepúsculo do Capital.

Aqui e agora, porém, quero chamar a atenção para o fato de que os 300mil manifestantes que foram ontem às ruas para gritar contra a corrupção, não devem ser simploriamente qualificados como um bando de burguesinhos moralistas e alienados, embora haja, ente eles, uma boa quantidade desse tipo.

O que há, a meu ver, é a consubstanciação, no inconsciente coletivo brasileiro (e provavelmente mundial) de que a Política é uma coisa podre. O que é verdade. Todavia, apenas a metade da verdade. A outra é a de a expressão “política” nos seu sentido mais amplo equivale a Sistema. Mas que Sistema?

Este Sistema, perdão, é o modo de produção capitalista que encampou os estado nacionais de um modo geral e dita suas políticas macroeconômicas. As políticas menores, a dos senadores, deputados e ministros (sejam corruptos ou não) são apenas derivadas daquelas, as que comandam a economia e todo o resto.

Pode-se dizer, também, que o Sistema é um processo social, o da acumulação do Capital. Todos os arranjos políticos e acordos sociais (pactos gerais ou negociais específicas) são feitos e mantidos em função dessa acumulação.

E aqui, o ponto central: em razão da diminuição total e relativa da classe operária e a concomitante diminuição de seu peso político, os pactos realizados através do estado, favorecem crescentemente ( mesmos nos governos ditos de centro-esquerda) à acumulação do Capital. Acumulação esta que, invariavelmente é acompanhada pela concentração do dito Capital.

Esclarecer melhor esse processo e encaminhar o discurso correspondente é o principal desafio e principal tarefa dos teóricos de esquerda. Infelizmente a maioria ainda está presa aos obsoletos conceitos leninistas de cem anos atrás, quando inversamente, a classe operária iniciava sua ascensão política. Ou seja: os conceitos leninistas foram válidos há cem anos Agora, sempre à luz da própria teoria marxista, precisam ser radicalmente reestudados e adaptados.

Quanto ao domínio do Estado ou do Sistema pelo Capital Financeiro, podemos dar exemplos práticos. Vejamos um pedaço do noticiário econômico da última quinta-feira:

“Banco Central decidiu abrir mão de R$ 18,6 bilhões de débitos de bancos que quebraram nos anos 90. Quando é decretada a falência, os acionistas da empresa que ficam responsabilizados de equacionar a dívida. Em dezembro do ano passado, a dívida de Banorte, Econômico, Mercantil de Pernambuco e Nacional somava R$ 61,705 bilhões. Com os descontos proporcionados pelo Refis da Crise, eles podem quitar os débitos por R$ 43,048 bilhões. Apesar do generoso abatimento, os banqueiros ainda chiam. Pela interpretação dos bancos falidos, a Lei do Refis garante um abatimento de R$ 25,186 bilhões, mas o BC não está disposto a reduzir ainda mais o débito. A legislação que concede este tipo de desconto às instituições financeiras foi criado em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, através do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer)”

Poderíamos acrescentar que mesmo com a recente redução da taxa de juros, o Governo Federal terá que separar, este ano, mais de 120 bilhões de reais, só para pagar (ao Capital Financeiro) os juros da dívida do Tesouro Nacional. Juros que são os mais altos do Mundo, embora todos digam que nossa economia é solida. Esses R$120 bi seriam suficientes para resolver os problemas da saúde e da educação, bem como para erradicar nossa miséria absoluta em seis meses e não em quatro anos, como quer a presidenta.

A Internet está roncando. Mas não há teóricos para ouvir e canalizar a grande bronca. As ruas também começam a roncar, mas (e nem vamos falar dos nossos políticos bandoleiros) não há lideranças autenticamente populares e ideologicamente coerentes, para transformar o ronco num avanço.

1 comentário

NilvaSader

300 mil é um número superdimensionado, no país todo não houve mais de 100 mil pessoas protestando, mesmo assim concordo que os políticos devem atentar para o fato de haver tantos insatisfeitos e começarem a trabalhar e encontrar forma de atender à população nas reais necessidades. Preocupa-me um movimento contra tudoo que aí está, sem pauta definida e ao embalo de oportunistas que se utilizam de uma manifestação legítima para que tido continue do mesmo jeito.