22 de agosto de 2011

Com apoio da Otan, rebeldes controlam capital da Líbia

Com apoio da Otan, rebeldes controlam capital da Líbia

Rebeldes comemoram possível queda de Kadafi, cujo paradeiro é desconhecido na Líbia | Foto: Reprodução/Al Jazeera

Depois de um fim de semana de combates na capital da Líbia, rebeldes apoiados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) controlam quase todo o território de Trípoli, ampliando os ataques contra o quartel general do ditador Muammar Kadafi, há 42 anos no poder. No capítulo mais bélico da “primavera árabe”, o 12º maior produtor de petróleo do mundo tem um futuro incerto, mas sem Kadafi. Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha e Tunísia, entre outros países, já reconhecem a oposição como autoridade e pedem a saída de Kadafi, cujo paradeiro é desconhecido.

“Muammar Kadafi e seu regime precisam reconhecer a realidade de que já não controlam a Líbia. Precisam deixar o poder de uma vez por todas”, afirmou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “O país quer a liberdade e a democracia, e ser parte da Primavera Árabe. O povo líbio merece seu próprio futuro”, afirmou nesta segunda o premiê britânico, David Cameron.

Sete meses depois do começo dos combates, Kadafi está realmente ameaçado. A chegada dos rebeldes à capital, na noite de sábado, se deu graças a bombardeios aéreos promovidos pela Otan, que atingiu o quartel-general de Kadafi e o aeroporto de Maitika, também na capital. Nesta segunda, a capital voltou a registrar confrontos, principalmente na área do entorno do QG de Kadafi. Não há informações de que ele se encontra no local. Desde maio, o líder líbio não é visto em público.

Charge de Carlos Latuff para o OperaMundi

A TV estatal Jamahiriyah, da Líbia, saiu do ar nesta segunda e um porta-voz rebelde disse que as forças de oposição haviam assumido o controle da sede da emissora, em Trípoli.

O Conselho de Transição Nacional (CNT), que representa o movimento de oposição, anunciou que sairá de seu reduto na cidade de Benghazi, leste do país, até a capital Trípoli, para estabelecer um governo de transição. “Há um plano. Não haverá vácuo de poder. O conselho irá em breve de Benghazi para Trípoli e um governo de transição será estabelecido para governar o país”, disse nesta segunda em Londres um representante do conselho, Mahmud Nacua.

A tomada da Praça Verde

A chegada dos rebeldes à Praça Verde, que marcou a tomada de Trípoli, tem forte significado simbólico. Desde o começo dos conflitos, em fevereiro, a TV estatal líbia exibia imagens de apoiadores de Muammar Kadafi promovendo manifestações no local. Um grande pôster de Kadafi foi retirado de seu pedestral e pisoteado por revoltosos, em meio a euforia. Segundo as agências de notícias, não houve grande resistência por parte das forças leais ao ditador líbio.

A investida teria sido planejada com meses de antecedência, segundo integrantes do alto-comando rebelde. “A hora zero começou”, avisou Abdel Hafiz Ghoga, vice-líder do conselho rebelde em Benghazi. O quartel-general de Kadafi em Bab al Aziziyah foi alvo de bombardeios da Otan, bem como áreas próximas ao aeroporto de Trípoli. “O que estamos prestes a assistir é o colapso do regime. Kadafi já percebeu que não tem qualquer hipótese de vencer”, afirmou a porta-voz da Otan, Oana Lungescu.

Parte das tropas pró-Kadafi entregou-se aos rebeldes, incluindo integrantes da guarda oficial do ditador, mas ainda existem “bolsões de resistência” na capital da Líbia, advertiu o líder do Conselho Nacional de Transição, Mustafa Mohammed Abdul Jalil. “Sejam cautelosos, pois a luta ainda não acabou. Esperamos que em poucas horas nossa vitória seja completa”.

Em 2003, Lula encontrou Kaddafi no quartel general que está sendo atacado por rebeldes | Foto: Agência Brasil

Kadafi: “Lutem nas ruas. Não há desculpas”

À medida em que as tropas rebeldes avançavam sobre Trípoli, cresciam especulações sobre a localização de Kadafi. Boatos davam conta de que dois aviões vindos da África do Sul teriam pousado no aeroporto da capital. A partir daí, especulou-se que Kadafi poderia estar planejando uma fuga para o Zimbabwe. Outro boato dava conta de que o ditador já teria fugido para a Argélia. Porém, nenhuma confirmação sobre o paradeiro de Muammar Kadafi até o momento. Mahmoud Shamam, porta-voz do conselho de transição da Líbia, disse ser possível que Kadafi não esteja mais em Trípoli, sem fornecer mais detalhes.

Durante o domingo (21), três discursos em áudio de Kadafi foram reproduzidos pela TV estatal. Todos no tom desafiador comum às falas do ditador, mas sem demonstrar a mesma convicção de antes. “Como puderam vocês permitir que nossa bela e segura Trípoli fosse ocupada uma vez mais?”, disse Kadafi, fazendo referências ao regime anterior a sua chegada ao poder, em 1969. “Estão entrando em uma cidade destruída, uma nova Bagdá. Todas as tribos devem marchar a Trípoli e purificá-la. Vocês precisam ir às ruas agora mesmo. Vão e levem suas armas, todos vocês. Não há desculpas. Estarei lá com vocês”, discursou.

“Faltou sabedoria”, diz filho de Kadafi

Três filhos de Kadafi – Seif al-Islam, Mohammed e Saadi Kadafi – foram detidos por forças rebeldes durante a entrada em Trípoli. A prisão de ao menos um deles foi confirmada por Luis Moreno-Ocampo, procurador do Tribunal Penal Internacional. Outro filho de Muammar Kadafi, Mohammed, chegou a falar por telefone com a rede Al Jazeera instantes antes de ser preso.

“Eles dizem que garantirão minha segurança. Estão cercando minha casa”, disse o filho de Kadafi, enquanto era possível ouvir barulho de tiros. “Sim, os disparos são dentro de minha casa”, confirmou Mohammed Kadafi. Em um clima de grande tensão, o filho do ditador líbio adotou um tom de quem pede desculpas e parecia rezar em alguns momentos, ao mesmo tempo em que pedia ao povo da Líbia que “perdoassem uns aos outros”. “A falta de sabedoria e previdência nos levou a esse ponto. Poderíamos ter resolvido facilmente nossas diferenças”, disse Mohammed, que assegurou “nunca ter sido parte” do governo de Kadafi.

Charge de Carlos Latuff

Primavera Árabe à base de guerra

Pelas características históricas e geográficas da Líbia, desde o início se sabia que a “primavera árabe” seria diferente no país controlado por Kadafi. Ao contrário de países como Egito e Tunísia, onde o povo foi às ruas e, com maior ou menor grau de confrontos com o Exército, logrou a derrubada dos presidentes, na Líbia desde o começo a efervescência tomou o caráter de guerra civil. No final de março, as forças da Otan entraram no país. Apesar da morte em massa de civis, as potências mundiais mantiveram o apoio à intervenção na Líbia.

“Foram tomadas decisões difíceis, mas necessárias. Foram necessárias porque Kadafi está reprimindo a seu próprio povo e massacrando pessoas inocentes”, afirmou nesta segunda o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

“Hoje estamos vendo imagens de como os governos democráticos europeus e o supostamente democrático governo dos Estados Unidos estão praticamente demolindo Trípoli com suas bombas”, criticou, por sua vez, o presidente venezuelano Hugo Chávez, uma das poucas vozes de apoio a Kadafi.

Preço do petróleo cai

Com a iminente queda de Kadafi, o preço do petróleo caiu nesta segunda-feira. Na abertura do mercado europeu, o preço do petróleo do tipo brent caiu 1,7%, para 106,8 dólares o barril, enquanto a cotação do petróleo leve americano permaneceu estável em 82,9 dólares.

Os mercados esperam que um desfecho do conflito líbio restaure as exportações de petróleo do país, aumentando o fornecimento global da commodity. A Líbia é o 12º maior exportador de petróleo do mundo. Antes do início do conflito, o país produzia 1,6 milhão de barris de petróleo por dia, ou cerca de 2% da produção mundial total. Analistas dizem que os preços devem cair ainda mais, à medida que os acontecimentos no país deixem mais claro qual será o futuro político da Líbia

Com agências internacionais.

do Sul 21

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