Com apoio da Otan, rebeldes controlam capital da Líbia
Depois de um fim de semana de combates na capital da Líbia, rebeldes apoiados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) controlam quase todo o território de Trípoli, ampliando os ataques contra o quartel general do ditador Muammar Kadafi, há 42 anos no poder. No capítulo mais bélico da “primavera árabe”, o 12º maior produtor de petróleo do mundo tem um futuro incerto, mas sem Kadafi. Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha e Tunísia, entre outros países, já reconhecem a oposição como autoridade e pedem a saída de Kadafi, cujo paradeiro é desconhecido.
“Muammar Kadafi e seu regime precisam reconhecer a realidade de que já não controlam a Líbia. Precisam deixar o poder de uma vez por todas”, afirmou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “O país quer a liberdade e a democracia, e ser parte da Primavera Árabe. O povo líbio merece seu próprio futuro”, afirmou nesta segunda o premiê britânico, David Cameron.
Sete meses depois do começo dos combates, Kadafi está realmente ameaçado. A chegada dos rebeldes à capital, na noite de sábado, se deu graças a bombardeios aéreos promovidos pela Otan, que atingiu o quartel-general de Kadafi e o aeroporto de Maitika, também na capital. Nesta segunda, a capital voltou a registrar confrontos, principalmente na área do entorno do QG de Kadafi. Não há informações de que ele se encontra no local. Desde maio, o líder líbio não é visto em público.
A TV estatal Jamahiriyah, da Líbia, saiu do ar nesta segunda e um porta-voz rebelde disse que as forças de oposição haviam assumido o controle da sede da emissora, em Trípoli.
O Conselho de Transição Nacional (CNT), que representa o movimento de oposição, anunciou que sairá de seu reduto na cidade de Benghazi, leste do país, até a capital Trípoli, para estabelecer um governo de transição. “Há um plano. Não haverá vácuo de poder. O conselho irá em breve de Benghazi para Trípoli e um governo de transição será estabelecido para governar o país”, disse nesta segunda em Londres um representante do conselho, Mahmud Nacua.
A tomada da Praça Verde
A chegada dos rebeldes à Praça Verde, que marcou a tomada de Trípoli, tem forte significado simbólico. Desde o começo dos conflitos, em fevereiro, a TV estatal líbia exibia imagens de apoiadores de Muammar Kadafi promovendo manifestações no local. Um grande pôster de Kadafi foi retirado de seu pedestral e pisoteado por revoltosos, em meio a euforia. Segundo as agências de notícias, não houve grande resistência por parte das forças leais ao ditador líbio.
A investida teria sido planejada com meses de antecedência, segundo integrantes do alto-comando rebelde. “A hora zero começou”, avisou Abdel Hafiz Ghoga, vice-líder do conselho rebelde em Benghazi. O quartel-general de Kadafi em Bab al Aziziyah foi alvo de bombardeios da Otan, bem como áreas próximas ao aeroporto de Trípoli. “O que estamos prestes a assistir é o colapso do regime. Kadafi já percebeu que não tem qualquer hipótese de vencer”, afirmou a porta-voz da Otan, Oana Lungescu.
Parte das tropas pró-Kadafi entregou-se aos rebeldes, incluindo integrantes da guarda oficial do ditador, mas ainda existem “bolsões de resistência” na capital da Líbia, advertiu o líder do Conselho Nacional de Transição, Mustafa Mohammed Abdul Jalil. “Sejam cautelosos, pois a luta ainda não acabou. Esperamos que em poucas horas nossa vitória seja completa”.
Kadafi: “Lutem nas ruas. Não há desculpas”
À medida em que as tropas rebeldes avançavam sobre Trípoli, cresciam especulações sobre a localização de Kadafi. Boatos davam conta de que dois aviões vindos da África do Sul teriam pousado no aeroporto da capital. A partir daí, especulou-se que Kadafi poderia estar planejando uma fuga para o Zimbabwe. Outro boato dava conta de que o ditador já teria fugido para a Argélia. Porém, nenhuma confirmação sobre o paradeiro de Muammar Kadafi até o momento. Mahmoud Shamam, porta-voz do conselho de transição da Líbia, disse ser possível que Kadafi não esteja mais em Trípoli, sem fornecer mais detalhes.
Durante o domingo (21), três discursos em áudio de Kadafi foram reproduzidos pela TV estatal. Todos no tom desafiador comum às falas do ditador, mas sem demonstrar a mesma convicção de antes. “Como puderam vocês permitir que nossa bela e segura Trípoli fosse ocupada uma vez mais?”, disse Kadafi, fazendo referências ao regime anterior a sua chegada ao poder, em 1969. “Estão entrando em uma cidade destruída, uma nova Bagdá. Todas as tribos devem marchar a Trípoli e purificá-la. Vocês precisam ir às ruas agora mesmo. Vão e levem suas armas, todos vocês. Não há desculpas. Estarei lá com vocês”, discursou.
“Faltou sabedoria”, diz filho de Kadafi
Três filhos de Kadafi – Seif al-Islam, Mohammed e Saadi Kadafi – foram detidos por forças rebeldes durante a entrada em Trípoli. A prisão de ao menos um deles foi confirmada por Luis Moreno-Ocampo, procurador do Tribunal Penal Internacional. Outro filho de Muammar Kadafi, Mohammed, chegou a falar por telefone com a rede Al Jazeera instantes antes de ser preso.
“Eles dizem que garantirão minha segurança. Estão cercando minha casa”, disse o filho de Kadafi, enquanto era possível ouvir barulho de tiros. “Sim, os disparos são dentro de minha casa”, confirmou Mohammed Kadafi. Em um clima de grande tensão, o filho do ditador líbio adotou um tom de quem pede desculpas e parecia rezar em alguns momentos, ao mesmo tempo em que pedia ao povo da Líbia que “perdoassem uns aos outros”. “A falta de sabedoria e previdência nos levou a esse ponto. Poderíamos ter resolvido facilmente nossas diferenças”, disse Mohammed, que assegurou “nunca ter sido parte” do governo de Kadafi.
Primavera Árabe à base de guerra
Pelas características históricas e geográficas da Líbia, desde o início se sabia que a “primavera árabe” seria diferente no país controlado por Kadafi. Ao contrário de países como Egito e Tunísia, onde o povo foi às ruas e, com maior ou menor grau de confrontos com o Exército, logrou a derrubada dos presidentes, na Líbia desde o começo a efervescência tomou o caráter de guerra civil. No final de março, as forças da Otan entraram no país. Apesar da morte em massa de civis, as potências mundiais mantiveram o apoio à intervenção na Líbia.
“Foram tomadas decisões difíceis, mas necessárias. Foram necessárias porque Kadafi está reprimindo a seu próprio povo e massacrando pessoas inocentes”, afirmou nesta segunda o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
“Hoje estamos vendo imagens de como os governos democráticos europeus e o supostamente democrático governo dos Estados Unidos estão praticamente demolindo Trípoli com suas bombas”, criticou, por sua vez, o presidente venezuelano Hugo Chávez, uma das poucas vozes de apoio a Kadafi.
Preço do petróleo cai
Com a iminente queda de Kadafi, o preço do petróleo caiu nesta segunda-feira. Na abertura do mercado europeu, o preço do petróleo do tipo brent caiu 1,7%, para 106,8 dólares o barril, enquanto a cotação do petróleo leve americano permaneceu estável em 82,9 dólares.
Os mercados esperam que um desfecho do conflito líbio restaure as exportações de petróleo do país, aumentando o fornecimento global da commodity. A Líbia é o 12º maior exportador de petróleo do mundo. Antes do início do conflito, o país produzia 1,6 milhão de barris de petróleo por dia, ou cerca de 2% da produção mundial total. Analistas dizem que os preços devem cair ainda mais, à medida que os acontecimentos no país deixem mais claro qual será o futuro político da Líbia
Com agências internacionais.
do Sul 21
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