28 de abril de 2011

O Preço Justo e o professor sociólogo


Professores de sociologia da geração pós golpe militar de 64, sentiram-se frustrados durante toda a sua vida profissional por não conseguir exerce-la em sua plenitude.
A maioria dos formados em ciências sociais, os que queriam exercer o magistério, acabaram se encaminhando para funções administrativas e/ou burocráticas na educação, por falta de aulas de sociologia na redes públicas de ensino.
As disciplinas de sociologia e filosofia foram retiradas dos currículos escolares depois do golpe militar e foram introduzidas nos currículos escolares as disciplinas OSPB , Organização Social e Política Brasileira e EMC, Educação Moral e Cívica. Muitos professores de sociologia, acabaram assumindo essas aulas que, em alguns sistemas educacionais, adotavam livros didáticos escritos por militares com conteúdos "úteis" como:
-quando se deve hastear a bandeira brasileira e que ritual envolve o hasteamento
- qual a distância que o retângulo central da bandeira deve ter das bordas da bandeira
e outras informações "pertinentes" para a cidadania.
Em alguns casos o professor conseguia furar o cerco e dar aulas mais produtivas para desenvolver o senso crítico dos alunos, mas de maneira geral, foi um retrocesso lamentável na educação brasileira.
No ano de 2010 a SEE de São Paulo abriu concurso público para professores de sociologia.
Um amigo professor, da velha safra de sociólogos que não conseguiu dar aulas nos anos de chumbo, participou do concurso , foi aprovado e assumiu as aulas do ensino médio com entusiasmo de recém formado.
Que decepção!
O material didático produzido pela SEE em apostilas padronizadas para toda a rede, não agrada aos alunos ( que estão em outra), nem aos professor que se sente engessado e vigiado.
Se nos anos de chumbo o professor de sociologia temia ser vigiado pela direção quando dava suas aulas, agora ele é vigiado pelo controle de apostilas padronizadas que não ensinam a pensar apenas adestrampara fazer provas tipo teste e, tentar, elevar os índices das avaliações externas como o SARESP e a Prova Brasil.
Alunos do ensino médio, e universitários também, não tem a menor idéia do que seja, por exemplo, o Congresso Nacional, a Câmara de vereadores de seus Municípios e que funções desempenham ou a importância que tem em suas vidas. Partidos Políticos, para eles é agremiação de bandidos, não conseguem ver diferença entre um partido e uma organização criminosa como o PCC ou o Comando Vermelho.
Em conversa com esse professor sociólogo ele me diz que é absolutamente impossível tentar dar uma aula que faça os alunos pensar criticamente, promover um debate de idéias que os levem a ver a diversidade da sociedade.
Estes jovens estão na sala de aula com celulares, fones de ouvido, com Ipod, e sei lá mais o que pode ou não pode.
A única maneira que o professor encontrou para conseguir dar aula a estes jovens é transcrevendo no quadro negro os textos que estão nas apostilas, pois eles copiam tudo ao mesmo tempo que ouvem música nos MP3, atendem os celulares e se comunicam entre eles, e com os que estão fora da escola, através de torpedos.
Há um enorme anacronismo nessa cena, me diz o professor,
- "esses alunos tem, ou querem ter, tudo o que há de moderno em tecnologia e só possível faze-los copiar do quadro negro, exatamente como faziam seus avós"
Nesse cenário, desesperador para um professor sociólogo, aparece um "vlogs" com um movimento chamado "Preço Justo", doutrinando esses jovens ávidos por consumir todas essas novidades eletrônicas, contra impostos. Impostos, assim mesmo, bem generalizado como observou o blog ImprenÇa em seu post "Preço Justo e ativismo de sofá".
O jovem que faz a campanha contra os impostos pode não saber a diferença entre impostos Municipais, Estaduais e Federais, os que assistem o tal "vlogs" também não sabem, querem apenas que as novidades eletrônicas sejam barateadas para poder consumir, ou serão infelizes para sempre, mas os idealizadores dessas campanhas sabem muito bem o que são os impostos e aonde querem chegar com essas campanhas.
E o professor sociólogo, como fica nessa história toda?
Não fica. Penso que deveria se dobrar a realidade e tirar o time de campo. A roda da história não volta para trás. Não conseguiremos neste mundo dominado pelo imediatismo, pelo consumismo, pela era dos "vlogs", introduzir em sala de aula uma discussão sobre cultura de massa, Marcuse e o Homem Unidimensional.
A minha esperança é que jovens como a @juliaJhon_ que passa suas mensagens inteligentes e bem humoradas no Twitter e os que dominam a linguagem das novas ferramenta de TI mas não perderam as almas para o Deus do consumo assumam, como suas, a tarefa que o velho professor sociólogo gostaria de desempenhar, mas que não está dando conta.
Educar os jovens com a ajuda da tecnologia, mas não em função dela.


1 comentário

jaer51

Excelentes posts - o seu eo do @imprenca. É disso que precisamos pra evitar a idiotização da nossa meninada. Parabéns !!!
Ah, vc podia postar no Teia também, né !?
Abs.
@jaer51