3 de dezembro de 2010

Wikileaks: o mundo segundo o imperialismo

Reproduzido do Diario da Liberdade


Espionagem, intrigas, traição, corrupção... a receita do governo norte-americano para o mundo "dar certo".

Logo após a divulgação da primeira parte dos mais de 250 mil documentos secretos das embaixadas norte-americanas espalhadas pelo mundo, o governo Obama veio a público condenar o vazamento. O motivo? Todos têm seus esqueletos no armário.

As revelações feitas nos mais de 250 mil documentos secretos das embaixadas norte-americanas jogam luz sobre o sentido da política seguida pelo imperialismo norte-americano no trato de questões-chave da situação política mundial.

Começamos a publicar a partir desta edição alguns dos pontos mais importantes do conteúdo dos documentos divulgados na Internet.

Reunião secreta do ministro da defesa dos EUA e da França

O secretário de defesa dos EUA Robert Gates e o secretário da defesa da França Herve Morin se encontraram em um almoço de trabalho, em Paris, para discutir parcerias bilaterais, em 8 de fevereiro. A pauta do almoço foram variadas e mostraram as estratégias dos EUA, principalmente do sistema europeu antimísseis. O relatório é de Alexander Vershbow, secretário assistente para defesa da segurança internacional.

As conversas foram registradas em um relatório que mostram alguns pontos curiosos da estratégia dos EUA para alguns países da região.

Um dos temas foi o questionamento da venda de um helicóptero para Rússia pelo governo Francês, ao qual os EUA viam com preocupação. No relatório o ministro da defesa francês refuta o argumento, dizendo que a venda é uma forma de conseguir uma parceria com a Rússia e os "nossos" em um tempo crítico.

Outra conversa foi sobre a atuação da OTAN, e a reformulação de sua base de atuação, segundo Morin:

O conceito estratégico deverá mover a OTAN a partir de uma tradicional aliança defensiva para uma aliança de segurança que pode resolver uma ampla gama de ameaças globais.

O plano com relação a OTAN, seria reformula-la agregando parcerias com outros países, para maiores atuações da organização. O ponto central é transformar a OTAN, em um exército unificado, de países imperialistas com ações mais amplas e menos burocratizado.

Sobre Israel e Irã:

Outro ponto discutido entre os dois secretários de defesa foi a possível invasão do Irã por Israel.

Morin perguntou (Gates) se ele acreditava que Israel tinha a capacidade para atacar o Irã, sem apoio dos EUA. Gates respondeu que ele não saberia se seria bem sucedido, mas que Israel poderia realizar a operação. Morin disse que acreditava que um ataque convencional qualquer apenas adiaria os planos iranianos de 1 a 3 anos, e poderia unificar o povo iraniano eternamente contra o atacante.

Sobre o Paquistão:

A falta de controle dos EUA sobre o Paquistão e o fechamento de suas fronteiras para suprimentos das tropas da OTAN no Afeganistão foram tema do debate. E mostram a crise dos EUA com o país.

Morin expressou dúvidas sobre a vontade do Paquistão em combater os extremistas em casa. Gates disse que não havia mais coordenação entre EUA e as forças paquistanesas na fronteira. Morin ressaltou que a França aumentou significativamente a sua contribuição no Afeganistão nos últimos 18 meses de 2700 soldados para cerca de 4000.

Sobfre o Afeganistão, os secretário de defesa dos EUA apenas afirmou que a saída prometida para julho de 2011seria um começo de processo. "Ele salientou que não existe uma data final para o envolvimento dos EUA" no Afeganistão.

Outro assunto discutido foi à parceria da França com Rússia, e a continua preocupação dos EUA sobre essa aproximação. Gates afirma a preocupação com a falta de "democracia" na Rússia, e sua corrida por serviços de segurança e que a Rússia poderia ser uma ameaça a seus aliados do Leste Europeu.

A conversa dos dois secretários dá uma breve visão das parcerias dos dois países, algumas discussões políticas e divergências em relação a alguns aliados.

Caso do golpe de Honduras

O golpe de Honduras, conforme havíamos denunciado em nossas edições desde o golpe em 2009, tinha absoluta aprovação dos EUA. Os documentos vazados da Wikileaks sobre o país comprovam a tese. Abaixo alguns trechos do relatório do embaixador, Hugo Llorens.

Sobre o golpe em Honduras, o documento esclarece:

Algumas das questões jurídicas e constitucionais em torno do 28 de junho

da remoção forçada do presidente Manuel Zelaya. A perspectiva da

embaixada (EUA) é que não há dúvida de que os militares, o Tribunal Supremo e o Congresso Nacional conspiraram em 28 de junho, em que constitui um ilícito e golpe de inconstitucionalidade contra o Poder Executivo.

No trecho acima, é possível notar que o governo norte-americano tinha conhecimento do golpe militar e de sua inconstitucionalidade. Para o país que se diz democrático, o apoio ao atual governo de Honduras institucionalizado pelo golpe é uma contradição. Reconhecer esse governo como democrático, como os EUA fizeram, mostram o apoio incondicional ao golpe.

Neste outro trecho é possível ver a análise do embaixador dos EUA sobre a expulsão de Zelaya do país:

- Zelaya tinha quebrado a lei (alegada mas não comprovada);

- Zelaya renunciou (uma invenção de forma clara);

- Zelaya destina-se a estender o seu mandato (Suposição);

- Se ele tivesse sido autorizado a prosseguir com o seu 28 de junho sobre a reforma constitucional, Zelaya teria dissolvido o Congresso no dia seguinte e convocado uma

Assembleia Constituinte (suposição);

- Zelaya teve que ser retirado do país para evitar um banho de sangue;

- O congresso "por unanimidade" (ou em algumas versões por um votação de123-5 ) depôs Zelaya, (após o fato e, sob o manto de sigilo)

- Zelaya "automaticamente" deixou de ser presidente no momento

Mais uma vez ficou clara a análise do conhecimento dos EUA em relação ao golpe. Não havia provas de que Zelaya havia quebrado e algum tipo de lei, e muitas das questões eram apenas suposições. A saída de Zelaya do país, imposta pelos militares, mostra uma ação rápida em tirar o presidente, antes que esse tentasse um contra-golpe com o apoio popular, o banho de sangue seria justamente esse confronto, que foi evitado pela rápida captura e expulsão de Zelaya.

Neste outro trecho, o embaixador dos EUA revela a inconstitucionalidade do golpe:

- Os militares não tinham autoridade para remover Zelaya do país;

- O Congresso não tem autoridade constitucional para remover um Presidente de Honduras;

- O Congresso e o Judiciário removeram Zelaya, com base em uma afirmação apressada com um processo não-legal.

- A suposta carta de "renúncia" era uma invenção e não era mesmo a base para a ação do Congresso de 28 de junho.

- A prisão de Zelaya e a sua remoção forçada do país violou várias garantias constitucionais, incluindo a proibição de expatriação, a presunção de inocência e direito ao devido processo legal.

Em seus últimos paragrafo o embaixador afirma:

Não importa o qual o mérito do processo contra Zelaya, seu afastamento forçado pelos militares foi claramente ilegal, e a ascendência de Micheletti como "presidente interino" era totalmente ilegítima.

Não há mais nenhuma duvida, os EUA sabiam o tempo todo que o golpe era ilegal e antidemocrático e anticonstitucional. Quando eles apoiaram o novo governo de Porfirio Lobo, institucionalizado pela junta militar golpista, estavam apoiado o golpe militar.

Em carta escrita por Zelaya para rádio globo de Honduras ele mesmo afirma "Ficou evidente a cumplicidade dos EUA ao conhecer previamente a planificação e execução do golpe de Estado e guardar silêncio, assim como seu conhecimento pontual dos fatos posteriores"

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