Dilma pede que a esperança vença o medo e o ódio; Lula foca em São Paulo e afirma que tucanos deveriam sair do palácio e andar na periferia
Por: João Peres, Rede Brasil Atual
São Paulo – O comício é o momento mais importante da campanha para alguns políticos. Sentir o poder da militância e a penetração do discurso são dois aspectos fundamentais para quem deseja conquistar apoios.
Melhor se o comício reunir uma massa bastante grande em tempos conhecidos pela menor mobilização política. Perfeito se for em um lugar representativo de momentos de alegria para o povo. E extraordinário se as massas estiverem empolgadas e sedentas por demonstrar que apoiam o projeto político.
O último comício da campanha de Dilma Rousseff (PT) em São Paulo reuniu todos estes elementos. O espaço reservado ao evento no sambódromo do Anhembi estava repleto – a pista, a arquibancada e o segundo piso da arquibancada –, com centenas de bandeiras, um colorido interessante, para dizer o mínimo.
Havia gente contente, em alto astral, dançando e tratando de demonstrar seu apoio ao projeto representado por Dilma e pelo presidente Lula. Daniela Lima, de 25 anos, queria entregar a Lula uma faixa dizendo que era sua fã e que admirava suas conquistas. “Nunca fui empolgada com política, mas te digo que o Lula é um cara que não desiste nunca. Estou muito feliz de presenciar esse momento. O que mais mudou foi o orgulho de ser brasileiro, a afirmação do brasileiro.”
O que não mudou foi São Paulo. A organização do comício esteve bem, mas esqueceram de combinar com os russos. Ou, para alguns, com São Pedro. A cidade, que ficou mais de mês sem chuva, segue tendo momentos de terra da garoa, como pouco antes do comício. E o que tem de verdade são momentos de terra do dilúvio. Foi assim, com uma tempestade macondiana, que começou o comício em São Paulo. Mesmo sob água, demorou para que alguém arredasse pé, e a grande maioria ficou até o fim – também porque o fim era Lula; fosse outro, talvez teria sido diferente.
A grande maioria estava presente quando Dilma lembrou a primeira eleição do presidente Lula e afirmou que a esperança vai novamente vencer o medo. “Mas agora temos na mão não só a esperança, mas o amor do governo do presidente Lula, que eu tive a honra de participar. Esse amor que vai derrotar o medo junto com a esperança de um Brasil melhor. Vai derrotar o medo e o ódio que tentam ser a característica principal dessa eleição”.
Antes dela, Netinho, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante haviam celebrado o momento. Músicas do candidato ao Senado foram transformadas em jingle de campanha. Versos de Cohab City, da época de Negritude Júnior, viraram, por exemplo, “O Brasil agora é diferente / Lula abriu novo caminho” - antes, cantaria-se "Netinho, também tô chegando / Não vou te deixar sozinho."
Mercadante teve o discurso mais enfático, talvez porque seja o que enfrenta a situação mais complicada: precisa levar para o segundo turno a disputa em São Paulo com Geraldo Alckmin (PSDB), ao passo que Marta e Netinho lideram as pesquisas para o Senado. Após dançar com Dilma o jingle de sua campanha, o senador ponderou que jamais se poderá apagar da história do Brasil o governo Lula e o movimento de massas em torno do presidente. “Essa militância é o patrimônio do nosso projeto. Eles (PSDB) podem ter mais tempo de TV, mais dinheiro e mais poder na imprensa, mas nunca vão comprar a garra, a dignidade de vocês.” Para ele, se a crise financeira internacional foi, por aqui, uma marolinha, a vitória petista no Brasil será um tsunami.
Lula, por sua vez, focou o discurso em São Paulo. Enumerou os problemas dos 16 anos de administração do PSDB e pediu várias vezes o voto em Mercadante. “O governo do estado acha que não tem pobre. Acha que não tem pobre porque eles vivem só dentro daquele palácio. Deveriam andar um pouco na periferia para saber o quanto de pobreza está espalhado em São Paulo”, afirmou, em um discurso que esteve um tom abaixo de seu reconhecido poder oratório. Talvez cansado, o presidente trocou números e nomes mais de uma vez.
Ruim se se leva em conta que pode haver sido o último grande comício de Lula na capital paulista, mas nada que desabone a idolatria em torno do líder. Faixas e bandeiras demonstravam grande admiração, o que levou Lula às lágrimas em alguns momentos, especialmente quando a massa entoou o antigo e (quase) mítico “Olê olê olá, Lula, Lula.”
“É o fechamento de uma campanha vitoriosa. Estou vendo uma mobilização que não via há muito tempo”, resumia o deputado federal José Genoino (PT), que circulava pelo meio da multidão.
Por ali, Iraci do Nascimento, uma metalúrgica de 57 anos, agitava feliz sua bandeira e não deixava de pular por um minuto. Ela se lembra de quando, aos 21, foi se manifestar contra a prisão de Lula. Sobre José Serra (PSDB), não poupa palavras: “É uma hipocrisia. Não posso votar num partido que puxa o que têm os pobres.”
Havia também críticas às ligações entre o tucano e a velha mídia. Faixas exibiam mensagens como “Folha mente” e outra, mais irônica, colocava “Quem? Quem? Quem? Veja. O que o povo pensa não erra. A cabeça dos brasileiros não precisa de Serra.”
Havia verdadeiros personagens. Gente fantasiada, bonecos de Olinda representando candidatos, senhoras de idade esbanjando energia e exibindo bandeiras. Martins Soares de Oliveira, um rapaz moreno de pouco mais de um metro e 60, tinha, nas bochechas, adesivos de Dilma; nas calças jeans, adesivos aos montes; o mesmo na camisa estilo futebol americano; carregava bandeiras e, para completar o figurino, levava um boné do Corinthians.
Corinthians, aliás, que deixou o presidente triste. Lula lamentou haver perdido para o Internacional na última quarta-feira. Menos pior, para ele, que o Colorado é o time de Dilma. Se o time de Dilma ganha, para Lula está bom. Até debaixo de chuva.
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