1 de junho de 2010

O DIA EM QUE MANÉ GARRINCHA DEU CHAPÉU NA FALTA DE CABEÇA DO JANJÃO BABÃO

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Raul Longo
Foto: Jasmim Losso Arranz

Siqueira, diga aí para o Robson e o Jorge tomarem cuidado! A doença do Janjão Babão, aquela que faz distribuir essas manipulações da informação sem qualquer desenvolvimento de algum raciocínio, pega! E esse texto que o Robson assina como presidente da FAP de Minas Gerais é um exemplo.

Até perdoável que, a partir de certa idade, o aposentado não queira nem saber o que acontecerá além de seus incertos cinco ou dez anos futuros. Compreensível não lhes ser possível calcular quanto os recentes aumentos do salário mínimo tornam os rendimentos mais vantajosos, apesar das reduções previstas pela Reforma da Previdência; do que se recebessem sobre os salários congelados desde 94, mantidos por Serra se eleito em 2002.

Isso sem contar que José Serra promulgaria o projeto da Reforma tal qual imaginado por FHC, reduzindo a contribuição ao sistema pelo empresariado e aumentando aos empregados.

Compreensível que o aposentado que contribuiu ao longo de tantos anos e com menor tempo de jogo à frente, não queira saber dos desvios da Georgina e outros tantos. Ninguém quer pagar por desfalques de sonegadores patronais, entre eles as grandes empresas da imprensa, mas o Robson e o Jorge precisam saber que é essa imprensa sonegadora a que mais insemina estas meias informações que distribuem babando.

É próprio da idade de muitos aposentados e não haveremos de insistir por outro comportamento, mas se o Robson ou o Jorge forem como o Janjão, também sofrem de senilidade precoce e apenas babam informações sem a recomendável e natural mastigação racional.

Afinal, convenhamos, Siqueira, na linha desse desarticulado raciocínio podemos reivindicar tudo. Por exemplo, eu poderia reclamar de falta de investimentos na área cultural que possibilite publicar meus livros ou produzir meus roteiros. Mas ainda sou jovem ou, se não jovem, ao menos saudável o suficiente para deduzir que não se trata de produzir livros e roteiros meus ou de meus amigos e, sim, de desenvolver uma política cultural que, daqui a 20, 30 anos, tenha construído uma nação com capacidade de produção cultural correspondente ao seu significado perante o mundo, tal qual ocorre nos mais importantes países da Europa. Por que não?

Citei aí a Europa ao acaso, mas é exemplo providencial se lembrarmos que nas nações de lá também houve muita polêmica sobre as inevitáveis reformas previdenciárias, tais quais a ocorrida no Brasil na mesma época. Apesar de não terem sofrido tantos desfalques e sonegações, por maior vigilância e responsabilidade que só agora experimentamos – e também pela impunidade muito menor do que a aqui mantida até meados desta década – na Europa também tiveram de calcular redutores previdenciários pelos mesmos motivos que igualmente nos atingem: aumento de longevidade dos aposentados e aumento de jubilados, entre outros fatores que colapsariam o sistema em poucos anos e, assim, obrigaram os governos responsáveis e previdentes a implantar a reforma.

Nesses países também houve políticos que deram a grita e tiveram chiliques eleitoreiros, foram às lágrimas e fundaram “Psois” mundo afora. Mas a verdade é uma só: não adianta o governo destinar verbas para publicações dos meus livros se, primeiro, não resolver o problema da fome e do analfabetismo, pois de que me adianta livros na prateleira? Quero é que me leiam e para que me leiam preciso de leitores. Não de prateleiras.

Janjão Babão não conseguirá estabelecer a relação de raciocínio analógico que tento aqui, mas insista com o Robson e o Jorge até que percebam que povo faminto e analfabeto não tem condições de ler nem de ir ao cinema, então de nada adiantaria ficar reclamando por essas verbas dedicadas ao fomento do mercado exterior que lamentam aí, pois eu e meus amigos não seríamos beneficiados nem mesmo que o governo aplicasse tudo no que produzimos. E para aplicar na justa retribuição aos que passaram a vida contribuindo, é o mesmo caso. Porque se, compreensivelmente, o aposentado conta com o benefício pelos anos ou décadas que lhe restam, o governo responsável há de pensar nas próximas gerações de aposentados.

E haveremos de tê-los devidamente remunerados na integralidade do que hoje fazem por merecer. Esses aposentados do futuro, comovidamente agradecerão o esforço dos atuais e, muito mais comovidos do que se agradecessem apenas a integralidade mensal de seus igualmente merecidos salários, agradecerão pela sobrevivência do sistema previdenciário.

Provavelmente ninguém mais se lembrará qual terá sido o governo que assumiu essa responsabilidade, mas mesmo que não esteja vivo para testemunhar, se o Robson utilizar algo de suas potencialidades cerebrais, poderá imaginar esse futuro ou concluir em quão exíguo tempo a realidade do sistema previdenciário de 2002, poderia se tornar seu presente. Um pesadelo pelo qual Janjão baba na fronha todas as noites.

Estimule o Robson e o Jorge a raciocinar quão mais inacessível se tornaria a atual situação previdenciária, na continuidade do engessamento do país com aquele espetacular e internacionalmente notável nível de desemprego promovido pela política neoliberal, ainda defendida pelo último militante do candidato José Serra. Estimule-os a calcular em quanto mais se inviabilizaria o sistema com a queda de contribuições pelo desemprego e baixos salários.

Estimule-os! Pois esclerose do tipo da do Janjão Babão, o último dos militantes demotucano, é coisa que pega, mas se a superarem serão capazes de concluir por eles mesmos e sem ajuda de suplementos geriátricos que, ao ajudar na solução da crise europeia através da Grécia, o governo também está investindo, e de forma muito mais efetiva, na progressão do sistema previdenciário, pois assim como não adiantaria investir em minha geração de escritores e produtores culturais, sem imaginar uma progressão futura para a arte e a cultura brasileira, não adianta coisa alguma deixarmos que o mundo se lasque para melhor remunerar nossos aposentados de agora. Remunerar até quando, se não teremos uma Europa para adquirir nossos produtos agrícolas, manufatureiros ou industrializados? Incluindo os nossos produtos culturais.

Até quando, Siqueira, poderemos sustentar nosso crescimento se não tivermos nos países vizinhos, como a Bolívia, parceiros necessários às nossas eventuais deficiências, como a de gás natural?

Que atendimento poderemos oferecer a outras prementes necessidades desses senhores aposentados, como a saúde, por exemplo, em que mundialmente se destacam os avanços e conhecimentos de países como Cuba?

Ajude-os, Siqueira, a entender o óbvio. Evidente que essas colaborações do governo brasileiro no exterior não são meros presentes e, sim, investimentos humanitários. Nunca país algum ajudou o Brasil a fundo perdido e nem nós o poderíamos fazer, ainda que algum governo quisesse.

Ajudamos, sim, a enriquecer os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha e outros, mas estes também tiveram de pagar comissões. Das quais muito pouco ou nada foi revertido para o povo, o cidadão, o contribuinte. No entanto, que Robson não se engane, pois que eles pagaram, pagaram sim, não o valor devido, nem a quem de direito, mas pagaram.

Agora, se o Robson recebeu alguma parcela dessas comissões, já não está aqui quem falou! Afinal, por aí se explicaria a autoria do texto injustificavelmente distribuído pelo Jorge, este sim, único a se manter babão qual Janjão. Mas, do contrário, ajude ambos a vencer a síndrome esclerótica do Janjão Babão, para que consigam perceber, nas evidências da realidade mundial, não haver possibilidades para que cidadãos de qualquer atividade ou em inatividade se mantenham no atraso ao qual o Brasil foi manietado por tão longos anos, atraso esse agravado naquele período compreendido entre 1994 e 2002.

Exemplo evidente está na atual dificuldade de acompanharmos a promoção de nosso próprio crescimento, por déficit de mão de obra qualificada, técnicos especializados, engenheiros e peritos que atendam à demanda de nossas atividades produtivas.

E o Jorge e o Robson a distribuírem estupidez sobre o PRO-UNI como qualquer Janjão Babão! O que é isso agora? Virou religião? De último eleitor do José Serra, Janjão se tornou o guru de nova seita de zumbis que têm no babador o símbolo máximo! Quanto mais idiotices se distribuir pela internet e menos se raciocinar sobre o conteúdo e as reais intenções daquilo que se distribui, mais próximo se está de alcançar o Babador Dourado.

Façam-me o favor! Gente adulta agindo pior do que criança aliciada por pedófilo. Que coisa mais vergonhosa!


Pra finalizar, vou te pedir outro favor, Siqueira. Repasse para o Robson e o Jorge o que vou te contar.

Em 1983 eu estava no Chile. País e povo adorável, de cordialidade e disposição de espírito com muitas similaridades em relação ao brasileiro, me fazendo sentir uma profunda vontade de promover intercâmbios culturais entre nossos países; até porque, então, era raro um brasileiro por lá, e nos tinham uma sensível e comovente admiração, embora tão pouco soubessem de nós quanto nós, deles. Mas viviam perguntando sobre atores e atrizes das novelas que a Globo exportava para lá, e eu tentando demonstrar que aqueles enlatados não correspondiam à nossa realidade, não passavam de bobagens comerciais, pseudocultura.

Um ou outro jovem chileno conhecia as músicas do Chico Buarque ou do Milton Nascimento e, aí sim, encontrava onde estabelecer paralelos com Victor Jarra e Violeta Parra, entre nossas difíceis histórias de resistência aos regimes nazistas das ditaduras militares que nos vitimavam. Mas ainda me faltava encontrar os fundamentos, as razões de tamanha admiração e carinho pelos brasileiros, enquanto reclamavam de argentinos, peruanos e bolivianos. Lembro ter deduzido, brincando com alguns amigos chilenos: “- Si tuviera una frontera entre nosotros, tampoco gustarían de los brasileños.”

Mas na manhã do dia 21 de janeiro daquele 1983 é que percebi a verdadeira e única razão de, apesar de tão menosprezados pelos espoliadores internacionais que mantinham negócios com os governantes de nossa ditadura militar, ainda despertávamos o interesse de povos e instituições bem intencionadas. Porque ainda insistiam em relações honestas com nosso país.

Honestas relações que, sem dúvida, muito nos ajudou a manter a sobrevivência de alguma dignidade como nação, mesmo quando nos surrupiavam minérios por transamazônicas hoje tão esquecidas, aqui e no Chile, quanto as novelas da Globo daquela época. E um honesto interesse que sobreviveu mesmo depois de piratearem com tanto descaramento nossos potenciais, patrimônios e rentáveis empresas públicas abandonadas e sucateadas para subavaliação de contratos de privatização, em troca de serviços e atendimentos superfaturados aos cidadãos.

Antes e muito depois daquele ano de 1983 diversos foram os desfalques ao povo brasileiro, mas graças a esses que promoviam e conquistavam algum interesse e respeito ao Brasil, muitas instituições nacionais sobreviveram mesmo quando estávamos lá no fundo do poço, com uma dívida enorme e apontados como o menos confiável país do mundo pra qualquer tipo de investimento.

Ninguém pode afirmar com absoluta certeza, mas é bastante possível que até mesmo a Previdência Brasileira tenha sido beneficiada por estes pioneiros que, antes do Presidente Lula, foram os primeiros a sair pelo mundo promovendo uma imagem mais digna desse nosso país, valorizando nosso povo, demonstrando não sermos apenas o país da miséria social, dos frequentes e violentos atentados contra os direitos humanos nos calabouços de quem deveria garantir nossa segurança e bem-estar.

Lembra-se, Siqueira, quem nos emprestava algum valor como povo, mesmo quando Gonzaguinha tinha de cantar que não estávamos com a bunda na janela para passarem a mão nela? Mesmo quando, mais do que o Maradona, o então Ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, nos tratava como moleques, e aos nossos governantes como tratantes sem palavra.

Lembra-se, Siqueira, quanta dignidade nos emprestaram as chuteiras de nossos jogadores de futebol, mesmo quando nosso principal representante no exterior, o Celso Lafer, se submetia a tirar os sapatos para ser revistado como suspeito sempre que chegava em aeroporto dos Estados Unidos?

Está lembrado, Siqueira? Pergunte ao Robson e ao Jorge se eles lembram.

Eu me lembro, Siqueira. Lembro-me muito bem, porque naquela manhã de janeiro de 1983, na sala de café da pensão onde morava e depois nas ruas, durante o decorrer de todo aquele dia 23, fui acometido por chilenos que vinham me abraçar soluçando, chorando. Nas mãos, um exemplar dos tantos jornais e revistas que reproduziam manchetes de grandes noticiários internacionais, lamentando e anunciando a morte de Mané Garrincha.

Além de dia de luto nacional, Pinochet, ainda ditador, não declarou feriado. Mas foi o mesmo que fizesse, pois por uns três dias as pessoas compareciam ao trabalho, e não trabalhavam. Todos lembrando do Garrincha e da Seleção Brasileira no Campeonato Mundial ocorrido naquele país, duas décadas antes.

Como o Robson e o Jorge devem saber, Mané Garrincha morreu pobre e sem aposentadoria. De resto, é só você incentivá-los a parar de babar porque certamente ainda não estão em idade de ficar imitando o Janjão Babão. Mas qualquer neurologista pode adverti-los sobre o futuro de cérebros que não são utilizados.

Muito mais vivo que os zumbis de Janjões, ainda hoje Mané Garrincha é maior merecedor de boa aposentadoria do que esses que não usam a cabeça nem para levar chapéu.

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Depois de tudo isso, a nossa Agência Assaz Atroz recomenda:

"É"

A gente não tem cara de panaca
A gente não tem jeito de babaca
A gente não está
Com a bunda exposta na janela
Prá passar a mão nela...

Né, Gonzaguinha?



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Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz


Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

Agência Assaz Atroz

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