19 de abril de 2010

Vamos ao que realmente interessa ao povo

Nós ficamos aqui discutindo a semana inteira os diferentes resultados das pesquisas, como se este fosse o mais importante tema das eleições presidenciais deste ano, capaz de decidir seu resultado. Pura bobagem, como podemos verificar na manchete da Folha este domingo: “Renda no Brasil volta asubir no ritmo pré-crise _ Melhora está mais ligada ao rendimento do trabalho do que a programas como o Bolsa Família, diz analista”.

O mesmo jornal, tão criticado pelos leitores por divulgar um Datafolha com José Serra dez pontos á frente de Dilma Rousef (38 a 28), no sábado, resultado bem diferente de outras pesquisas, publica neste domingo uma alentada reportagem do repórter Fernando Canzian que nos leva de volta à vida real dos brasileiros:

“No ano eleitoral de 2010, o aumento de renda no Brasil retomou os níveis anteriores à crise de 2009, e o poder de compra das famílias antigiu o maior patamar em uma década e meia. Além disso, a proporção de brasileiros abaixo da linha de miséria caiu 43% desde 2003″, informa o jornal em sua primeira página.

“Distribuição de renda deve marcar eleição _ Melhora do poder aquisitivo retoma ritmo pré-crise; ganhos com o trabalho superam de longe os com benefícios sociais”, acrescenta o jornal na manchete da reportagem publicada em duas páginas internas.

A reportagem de Canzian derruba esta balela de que a aprovação recorde do governo Lula (caiu de 76 para 73% no último Datafolha, dentro da margem de erro, mas ainda é a maior na série histórica do instituto) se deve apenas aos pobres do Bolsa Família. O aumento da renda do trabalhador brasileiro permite hoje que ele compre 2,2 cestas básicas com o salário mínimo de 510 reais, enquanto em 2003 só podia comprar 1,2 com 200 reais _ ou seja, a metade.

O resto é filosofia e disputa de slogans entre marqueteiros. Os números levantados pela reportagem levaram até o insuspeito cientista político tucano Leôncio Martins Rodrigues a concluir que “não há dúvida” de que a renda em alta é “trunfo” para Dilma Roussef.

Na hora da onça beber água, a pergunta que todos se fazem é muito simples: minha vida melhorou ou piorou nos últimos oito anos em relação ao período anterior? A reportagem da Folha não deixa dúvidas: enquanto a classe C hoje representa 53,6% da população, a classe E, a dos mais pobres, caiu de 29,5% para 17,4%. “A proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha de miséria caiu expressivos 43% desde 2003″, informa a Folha.

Mais do que qualquer pesquisa neste momento, são estes indicadores que, mais à frente, levarão os eleitores a decidir seu voto no momento em que se projeta um crescimento de até 7% para a economia brasileira em 2010. É esta a conclusão a que qualquer leitor chega ao terminar de ler a reportagem de Fernando Canzian.

O grande desafio de José Serra, lider absoluto nas pesquisas *, seja qual for a pesquisa, é ser o candidato de oposição numa circunstância econômica e social muito favorável ao governo. Por isso mesmo, o presidente Lula, sempre poupado pelo candidato da oposição, deveria dedicar todo seu tempo a cuidar mais do governo do que da campanha de Dilma _ até porque, se o país continuar neste mesmo ritmo de crescimento econômico e diminuição das desigualdades sociais, o resultado da eleição pode ser uma consequência natural, longe dos palanques, e mais perto da vida real.

* correção do próprio Ricardo Kotcho; na pesquisa CNT SENSUS Dilma e Serra estão empatados.

do blog Balaio do Kotcho

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