24 de março de 2010

DEU WAACK NO MEU COMPUTADOR




Raul Longo

Assim, na calada. Eu aqui digitando distraidamente, ainda que atento ao recrudescimento da campanha do PMMCF (Partido dos Marinho, Mesquita, Civita e Frias) que na falta de verdades a serem divulgadas sobre inexistentes qualidades de seu candidato, insistem em inventar mentiras para desqualificar o governo e a candidata da única boa situação em que o país já esteve em toda sua história. De repente uma sirene escandalosa do programa antivírus.

Quase me enfio embaixo da mesa, com aquela neurose dos tempos em que ROTA, DOPS e Esquadrão da Morte era tudo a mesma ameaça. Foi quando apareceu na tela do monitor o aviso: O avast detectou um Waackare, mas não há motivo de pânico. É só seguir uma das recomendações abaixo.

Segui todas e não bobeei. Imediatamente solicitei rastreamento completo dos discos A, B, C, D, E; e o que mais houvesse.

O resultado foi estarrecedor. O programa antivírus descobriu um jabortojan, uma anamariapraga e um casal de bonnerware.

Telefonei pro técnico e expliquei o assunto:

- Meu! Tô ferrado! Um monte de coisas pra fazer e a máquina infectada de tudo quanto é vírus.

Bonachão, o rapaz tentou me acalmar do outro lado, menoscabando a relação: - Calma seu Raul! Esses vírus aí todos já não tem mais tanto efeito. Estragavam a memória dos discos mais antigos. Hoje tudo evoluiu muito e os modernos antivírus impedem ações mais drásticas. Amanhã à tarde está bem para o senhor?

- Não dá pra ser antes? Vou ficar até amanhã sem poder trabalhar.
- Mas o senhor pode trabalhar sossegado. Esses virusinhos aí não tem mais efeito nenhum.
- E se me baixa uma Leitão de Tróia aqui e me ferra os arquivos todos?

Ele riu, dizendo que nada disso tem mais tanto efeito, mas não confio na displicência desses técnicos de informática. Todos muitos jovens, achando que qualquer coisa se acha na internet e é só fazer novo dowload.

Sei que não é bem assim e desliguei a máquina. Desisti, escrevi à mão, fui à praia e à noite pro Beira D’Água tomar cerveja e ouvir conversa de pescador. Tinha feito o rapaz me prometer que viria pela manhã do dia seguinte, mas o maldito só veio a tarde mesmo. E eu ali, com o computador desligado, sem coragem nem pra matar o tempo com um joguinho de paciência.

Fui logo recomendando:

- Não abra nada! Só o antivírus.

Sorriu aquele risinho enervante de expert, mas conferindo o que mandei pra quarentena reconheceu as razões de minhas preocupações:

- É seu Raul... A gente até podia fazer uma limpeza por aqui mesmo, mas além daqueles vírus que o senhor acusou, tem também um Mervalware e vai que há um Kameljacker... Melhor mesmo é levar a CPU pro laboratório.
- Esse Kamel aí é o quê?
- Perigoso porque é o que chamamos de vírus biológico. Capaz de reproduzir-se a si mesmo.
- Pior que um Borisspay.
- O senhor já ouviu falar em piron?
- O vírus da vaca louca?
- É tipo isso, só que ainda pior.
- Pior? – balbuciei.
- É... Mas pode não ser isso. Se for, tem de ser retirado imediatamente porque pode infectar os demais componentes e se atinge o HD, pode jogar seu equipamento no FHC e puxar o bornhausen. Só dá pra aproveitar a caixa.
- Não! Joga tudo. Não quero carcaça infecta. E quanto tempo demora isso.
- Olha... Se tiver um Kameljacker demora um pouco mais, mas acredito que não seja tão sério. Provavelmente depois de amanhã vai estar pronto.

Passei o resto do dia e a quarta pesquisando o tal piron em tudo que é publicação sobre biologia que encontrei em casa. Não são muitas, pois não tenho filhos e depois da infância esse troço de vírus só passou a me preocupar quando o computador entrou em minha vida. Não encontrei nada sobre o piron, mas sei que é uma proteína mutante 100.000 vezes menor que um vírus. Ínfimo, mas altamente nocivo como tudo o que é ínfimo.

Na manhã da quinta-feira já liguei lá pros mecânicos de computador:

- Seu Raul, tem uma boa e uma má notícia pro senhor (detesto esse chavão!). A boa é que nenhum kameljacker inseminou seu computador, mas encontramos uns mainardware e alguns worms tipo catanhede, kramer e reinaldo azevedo.
- Tô ferrado! – desesperei.
- Nada seu Raul! Isso tudo é coisa antiga, vírus de boot. Do tempo da série dos Windows 286, 386, 586. Hoje em dia não tem mais efeito algum.
- É... Mas não faz muito tempo um catanhedelogger monitorou uma epidemia que nem existia e acabou levando uma enfermeira à morte. Uma enfermeira!
- O sistema da moça estava desprotegido, mas esse tipo de vírus já anda sem efeito desde o Windows Millenium.

Pra que ele foi falar em Milenium? Lembrei-me do tal instituto da mídia que se reuniu para desenvolver estratégia de ataque ao governo e bateu a paranoia.

- Dá para salvar pelo menos os arquivos de texto!
- Calma seu Raul! Seus arquivos já foram todos transferidos e salvos. Nada será perdido. Seu computador nunca foi detectado por crackers do tipo noblat ou cláudiohumberto e não há risco. Amanhã o entregamos aí em sua casa.

O jeito foi esperar, mas no começo tarde de sexta novo susto pelo telefone.

- Ih seu Raul, não vai dar pra ser hoje, não. Achamos um trojan bêbado.
- Trojan!
- É... Mas não é nada demais, não. É só uma dessas hipólito.
- Hipólito!
- Se não for, é um desses josoares sem mais graça nenhuma, mas nada sério. Só que amanhã é sábado e só vai dar pra entregar na segunda-feira.

Nem vou contar da melancolia do fim de semana. Domingo à noite saí do samba no Rancho do Neco antes de acabar. Às 8 horas da segunda já tava ligando, mas tive de retornar porque segundo a mocinha os técnicos ainda não haviam chegado. Quando chegaram, outra decepção:

- Hoje ainda não vai dar, seu Raul. Mas amanhã é certeza.
- Que mais de vírus vocês encontraram nesse computador bichado?
- Não seu Raul. Já está todo desinfetado, mas como o senhor tem muitos arquivos, a transferência demora. Agora tudo depende da máquina, mas amanhã, sem dúvida, vai estar aí.

Na terça chegou. O rapaz que o levou, foi o mesmo quem trouxe.

- Como é que foi entrar tanta porcaria no meu computador? O antivírus atualiza automaticamente, nunca abro arquivos e anexos executáveis, excluo qualquer mensagem de origem duvidosa; e ainda assim essas pragas se instalam.
- É assim mesmo, seu Raul. Sabe como são os hackers, nunca fizeram nada que preste e se satisfazem prejudicando os outros. São uns sádicos mesmo.
- Porque não vão fumar crack! Assim pelo menos morreriam logo.
- Pode ser pior, seu Raul. Veja o que aconteceu com o Glauco.
- Pois é! Logo o Glauco!
- Então... Mesmo quem não tem nada a ver com elas, acaba sendo vítima das drogas. Foi o que aconteceu com seu computador e o jeito é se proteger.
- Mas tomo todo o cuidado!
- É o que digo: não fazem nada que preste e de quatro em quatro anos ficam inventando jeitos de prejudicar os outros. É a estratégia dos incompetentes.

Mas, enfim, estou aqui de volta à rede e conto o que aconteceu para todos aqueles que me escreveram e ligaram perguntando pelas razões de meu afastamento.

A culpa foi deles, dos malditos vírus. Mas continuamos aí, juntos, para cumprir com nossa função de antídoto, com meu computador funcionando e tocando a vozinha pequena e simpática do Mário Reis ao fundo: “a maldade nessa gente é uma arte...”


*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

2 comentários

Unknown

Raul Longo, faça o seguinte, mande instalar em teu micro, macro ou lepra estope, o antivirus kapersky, é russo, e ganhe uma proteção definitiva, vem embutido nele os titãs, Lenin, Stalin, Mao tse Tung
Fidel, Marx, Engels, Chavez e Lula, pra combater a jaguarada tantãns, que rodeiam a entrada do seu micro.

La Pasionaria

adorei conhecer essas cepas de vírus.
Ou cepa é de bactéria?
Não tenho certeza, mas é tudo igual, vírus bactérias, lombriga, chegam de mansinho, vão se instalando, cusam baixas nas tropas mais enfraquecidas, provocam náuseas, dores de cabeça e muita diarréia.
Mas cumprido o seu ciclo, quando percebem que não vão levar nada, desaparecem ou se metamorfoseian, em outros vermes abjetos.