O cineasta Eduardo Escorel filmou o enterro do estudante Edson Luís no dia 29 de março de 1968. Com o aumento da repressão, ele entregou o rolo com as imagens para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna, de onde o material se extraviou e ficou perdido por cerca de 40 anos.
Leia também:
Reencontrado e restaurado em 2008, o material com 12 minutos de filmagem em estado bruto, em preto e branco e sem áudio, está na Cinemateca Brasileira e pode se tornar um documentário sobre o período. "Pensei em fazer um filme sobre esse dia, seria o dia anterior e o dia do enterro, tentar levantar o que estava acontecendo nesses dois dias em março de 68. É um projeto que está anotado", afirma Escorel.
Assista uma seleção exclusiva das imagens feitas por Eduardo Escorel
Na época da morte de Edson Luís, Escorel era estudante de sociologia e política e cineasta principiante. Trabalhava junto com o cineasta Joaquim Pedro de Andrade, que na época fazia o roteiro do filme Macunaíma. Foi Joaquim quem lhe deu a notícia e foram juntos ao velório de Edson.
Após o velório, influenciado por Joaquim, Escorel resolveu registrar o enterro do estudante. Para a filmagem utilizou uma câmera Eclair 16 mm.
Uma multidão se concentrou na Cinelândia para esperar a saída do corpo.“Com minha inexperiência cheguei tarde na Cinelândia e tive dificuldade de me aproximar, filmei de longe”, lembra Escorel.
Uma multidão se concentrou na Cinelândia para esperar a saída do corpo.“Com minha inexperiência cheguei tarde na Cinelândia e tive dificuldade de me aproximar, filmei de longe”, lembra Escorel.
“Em determinado momento, não me lembro como, atravessei a multidão aos pés da escadaria do Prédio Gaiola de Ouro, onde estavam reunidas algumas lideranças estudantis como Vladimir Palmeira, Marcos Medeiros e o Elinor Brito”.
Os rolos de filme que Escorel dispunha permitiam apenas 20 minutos de filmagem.”Fiquei com a preocupação de controlar o filme para que não acabasse antes do cortejo”.
Durante mais de duas horas o cortejo percorreu os 6 quilômetros que separavam o centro da cidade e o cemitério no bairro de Botafogo.
Durante mais de duas horas o cortejo percorreu os 6 quilômetros que separavam o centro da cidade e o cemitério no bairro de Botafogo.
Alguns trechos do cortejo Escorel filmou a pé e outros pegando caronas em caminhonetes que apareciam com repórteres. “A partir de certo momento eu me adiantei e fui até o cemitério São João Batista para esperar a chegada do caixão, lembra.
Durante o trajeto, as ruas estavam sem iluminação. Quando chegou ao cemitério já prestes a anoitecer, já não havia luz suficiente para filmar. “Fiquei dentro do cemitério esperando. Mas quando o caixão chegou tinha mais alguém filmando, provavelmente da TV Tupi, então fiz a cena do caixão sendo colocado em uma dessas covas, do lado esquerdo”.
- Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
Seja o primeiro a comentar!
Postar um comentário