LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Laerte Braga
“O
mundo é um fluxo caótico e sem sentido; e ser real, ser parte do mundo do
fluxo, é parecer. Aparência não mascara a realidade; a aparência é a realidade.
Ou melhor: agora podemos nos livrar totalmente desses conceitos, aparência e
realidade. Só o que podemos dizer é que existe o fluxo” (Mark T. Conrad, OS
SIMPSONS E A FILOSOFIA, Madras, São Paulo).
A
mídia de mercado, hoje globalizada em função dos interesses do capitalismo,
percebe isso com tranquilidade e sabe como dirigir o fluxo caótico e sem
sentido, no sentido e na direção do papel que tem a cumprir na
aparência-realidade.
O
ex-goleiro Bruno já estava previamente condenado e Chávez é mau porque Chávez
enfrentou o capitalismo e desafiou os Estados Unidos. Não importa que o
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados seja um
racista, ou que o presidente da Comissão do Meio-ambiente seja um predador
ambiental. Importa que a aparência-realidade seja aquela capaz de domesticar as
pessoas de um modo tal que ou caminham sem a menor noção do seu significado, ou
viram demônios.
“Ate
o presente a comédia da existência ainda não se tornou consciente de si
própria. Até o presente ainda vivemos na era da tragédia, a era das moralidades
e religiões”, Nietzsche.
É
como um pastor ou um papa renunciante promover a abertura de um espetáculo.
Senhoras e senhores, com vocês a liberdade de expressão e todos os seus
contrastes. O moralismo hipócrita das notícias distorcidas e falsas do JORNAL
NACIONAL, ou dos púlpitos, tanto faz. No centro do palco Bonner, ou Waack, até
o MANHATTAN COLLECTION, programa de seis ou sete telespectadores.
A
crença que somos o produto de um agente. Que nossas ações não são outra coisa
que não a soma ditada pelo agente, desde o simples ato de comer, ao medo de
pisar na linha ou fora da linha, no massacre da liberdade de expressão na ótica
e na lógica capitalista.
A
perda da identidade, o papel representado, do qual não se pode arrancar a
máscara sob pena de ser mandado às galés.
Emissoras
de rádio e tevê são concessões de serviços públicos. Têm compromissos
delineados numa lei arcaica, mas têm. A GLOBO “educa” com o BBB, paraíso
masturbatório (às vezes mental) de milhões que como numa arena romana decidem
sobre vida ou morte e toca essa manada nas novelas e no JORNAL NACIONAL, aqui
como síntese de toda a sua ação.
O
direito a informação real, ao fato real, inexiste; Liberdade de expressão passa
a ser guiar a boiada. Condenem Bruno, execrem Chávez, silenciem sobre Renan
Calheiros, sobre o deputado racista, sobre o “fiscal do ambiente” predador.
É
relevante que no horário certo estejam todos atentos e sejam capazes de não
destoar das instruções do grande irmão.
Liberdade
de expressão é um direito inviolável de cada um, é assegurado pela carta
constitucional. E está além dela, é quase ou é um direito natural.
Informação
não. É um dever de emissoras de rádio e tevês, sejam locais, ou redes
nacionais, prestar. Sem mascarar a verdade. Sem distorcê-la. Sem se
transformarem em instrumentos de um modo de ser que joga pessoas num curral e
trata-as como gado, que se pode tanger e depois moer.
Uma
nova lei de meios, que regule o setor, que ponha fim ao monopólio existente,
monopólio privado, é fundamental. Em abril de 2002, no golpe fracassado contra
Chávez, as redes privadas de tevê noticiavam uma realidade e o fato era outro,
tanto que, no domingo, ainda com as mentiras sendo divulgadas, Chávez voltou e
voltou nos braços do povo.
O
mesmo povo que a GLOBO esconde nas manifestações de dor e pesar pelo
falecimento do presidente e transforma em “ato inconstitucional” uma decisão do
governo venezuelano, dentro de um esquema maior, que está além de golpes ou tentativas.
O
temor que a GLOBO e a mídia de mercado têm de uma lei de meios não é o fim da
liberdade de expressão. É fim do domínio da comunicação, da informação, a
pluralidade de ideias em debate e disponível às pessoas. Isso aterroriza, basta
imaginar a farsa, que já está sendo percebida gradativamente (os índices caem
sistematicamente), tendo a contrapartida, tanto nas ideias, quanto na
informação pura e simples do fato.
“É
sem dúvida o nosso tempo... Prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a
representação à realidade, a aparência ao ser... Ele considera que a ilusão é
sagrada, e a verdade é profana. E mais: a seus olhos o sagrado aumenta a medida
que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo
da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado.” Feuerbach, prefácio da 2ª. edição de
ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO.
“Taí”.
GLOBO, bancada evangélica, salvações mágicas, hipocrisia no falso moralismo,
estão aí, Bonner, Edir Macedo e seus franqueados, Malafaia, Waldemiro, Bento XVI,
cardeais sem noção dos escândalos dos documentos secretos.
Torna-se
difícil a essa gente entender a dor do povo venezuelano pela morte de Chávez e
sua dimensão mundial, sobretudo latino-americana, pois que olhou para pessoas
como pessoas. Seres humanos como seres humanos e enfrentou a verdadeira luta, a
de classes, onde o trabalhador é o eterno explorado.
Tudo
isso é capitalismo. E mais as bombas que despejam para o saque das riquezas
naturais de povos do mundo inteiro. Inclusive países da outrora poderosa
Europa.
A
liberdade de expressão não é uma via com mão única.
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