DIÁRIO DE CAMPANHA
Laerte Braga
Boa parte da opinião pública é formada pela mídia. Da mesma
forma que um pastor evangélico é capaz de domar um rebanho dócil e ludibriado
em sua fé, muitas vezes produto da desesperança e não do ato consciente –
direito legítimo – de professar uma crença, a mídia manipula, distorce e
conduz. Tem muitos instrumentos para isso.
A televisão é a grande vilã desse processo e com uma
peculiaridade. A maior rede de tevê do País, que é parte de um complexo de
informação que envolve rádios, jornais e revistas e tem forte presença de
capital estrangeiro, se sobrepõe a partidos, governo (e governo envolve
executivo, legislativo e judiciário), pauta o País.
Uma situação dessas é impensável nos Estados Unidos, por
exemplo. O monopólio disfarçado, mas nem tanto, da comunicação. Vem desde os
tempos da ditadura militar, nasceu para a ditadura, conviveu com a ditadura e
se coloca de fato à margem do processo democrático. Ou melhor, engessou o
processo democrático.
Os que sobram são os veículos regionais ou municipais,
muitos deles livres dessa ditadura midiática. Ela é arrogante, ela dita regras
e não admite ser contraditada. E tem partido. É deslavada defensora da
moralidade pública, mas devedora dos cofres públicos. Envolvida em fraudes na
apropriação de uma rede de tevê em
São Paulo e capaz de levar a presidente da República a
ensinar como fazer panquecas num dos seus programas matinais.
Tem a concepção que o cidadão comum é um idiota (definição
de um dos seus astros preferidos) e engole qualquer notícia. Vende um modelo
que na aparência critica as cidades entupidas de automóveis estrangeiros (não
temos um carro nacional, só de montadoras estrangeiras fartamente beneficiadas
pelo governo atual), mas é ferrenha defensora da “livre iniciativa”, não move
uma palha contra o “pacote de bondades” da presidente Dilma Roussef ao chamado
setor produtivo.
É implacável com o servidor público. Silenciosa diante da
privataria tucana, pois cúmplice.
Andar pelas ruas de uma cidade em campanha eleitoral nos faz
ter uma percepção mais clara ainda desse processo de alienação imposto pelo que
Nélson Rodrigues diz que “acabou com a janela”. A televisão.
É impressionante o esforço para os quinze segundos de glória
que a tevê proporciona e que acabam se tornando a história de vida de uma
pessoa, um partido, um grupo.
Mamãe olha eu aqui!
Os problemas de um município como Juiz de Fora são definidos
por uma rede de tevê – no grosso da informação – e segundo sua ótica e seus
interesses. No caso é como se fora a invasão de um grupo de alienígenas (os
controladores não têm nada a ver com a cidade que não seja sugar). Têm até
candidato disfarçado de “amo Juiz de Fora”.
É significativo que o restante da mídia da cidade se
comporte de forma diversa. Seja o oposto do gigante de apetite pantagruélico
que devora as entranhas do ser e uniformiza todos segundo um padrão sombrio e
maquiado de uma realidade que não existe.
Ou por outra, acaba sendo a realidade. Imposta na voz suave,
ou às vezes “indignada” pelo nada, mas silente diante das grandes trapaças, das
quais é parte, ou tem esse silêncio comprado.
As pessoas começam a perceber que existe algo maior e mais
importante que a verdade televisiva. Ou o padrão ditado por um grande
dinossauro, algo que emergiu das catacumbas de Wall Street na genética do
capitalismo. Predador. Se espalhou pelo mundo, pelo Brasil então...
É interessante ver e ouvir, participar de protestos de
servidores públicos federais, estaduais e municipais, de trabalhadores da
iniciativa privada contra a marcha neoliberal do governo de um PT desmanchado e
que deixa órfã a militância que resiste à perda da história do que um dia foi
chamado de partido diferente. Faz parte hoje do clube de amigos e inimigos
cordiais. Aquele que joga a farsa do eu sou melhor você é pior e vice versa e à
noite jantam juntos longe das cavernas onde enterram e apagam a luz da
democracia popular.
O Estado brasileiro é laico. Ao contrário do pensam algumas
mentes tortuosas padrão Edir Macedo, Silas Malafaia, os milhares de pastores
bonifácios vida a fora, o Estado laico é a garantia do direito à fé.
A garantia das diferenças entre seres humanos, mas a certeza
da preservação da espécie humana. Não de robôs ou zumbis a cantar e gritar na
ilusão que assim ganham reinos eternos de belezas infindas e dulce far niente.
Servidores públicos protestando contra o governo do PT.
Inacreditável? Não. Inacreditável é o PT com cara e jeito de PSDB, numa
indigesta mistura que termina sendo PTSDB.
Dilma Roussef joga fora partido, sua própria história e
desmancha os serviços públicos vendendo através desse dinossauro midiático a
idéia que são os servidores os responsáveis pelas dificuldades econômicas e
financeiras do governo.
Servidores públicos são os responsáveis pela saúde, pela
educação, pela segurança, pela estrutura administrativa do Estado, pela
cultura, por todo o significado da organização institucional que regula a vida
de cidadãos de um país e que neste momento se mostra falido, pois em marcha
batida e com passos de gansos para o altar do deus mercado.
Tudo vira lucro, uma reedição de Midas.
Os altares estão sendo entronizados em todas as cidades sob
as mais variadas formas nos mais arrojados modelos de automóveis. Já substituem
companheiros e companheiras nos lares, ganhou status de família, ou centro das
famílias.
E dizem que comunistas matam idosos e arrancam crianças dos
seios de suas famílias. Não existe o SUS privatizado nos países comunistas e a
educação é primordial na construção do ser humano, na preservação da liberdade
e das características básicas desse ser.
Segundo Millôr Fernandes a propriedade privada se instalou
quando um dos primeiros seres a habitar o planeta saiu da sombra onde se
abrigava embaixo de uma árvore e ao voltar outro havia ocupado o lugar e demarcado
o seu terreno a poder de borduna.
O que as pessoas querem, mesmo as que não querem se é que me
entendem, é o resgate da dimensão humana. O reencontro com a vida em seu
sentido e sua essência. O amor, a paz, a construção coletiva. Para além disso
só esse ruído longínquo mas próximo de nós, das bombas que são despejadas sobre
idosos, crianças, mulheres, homens, na busca do petróleo e da água a qualquer
custo, na primazia do país que “deus” criou para guiar o mundo. Opinião de Milt
Romney, um milionário norte-americano e agora candidato a presidente daquele
país.
O reencontro com a realidade maior de cada um. A cidade. Não
importa qual seja. Todas as cidades. A primeira realidade do ser vivente e
bípede até prova em contrário.
E não se constrói a cidade sem a participação popular, sem
ouvir as pessoas, sem fazer com que as pessoas sejam as principais
protagonistas do desenho físico humano de uma cidade em todas as suas
necessidades e direitos, que na prática são anseios justos transformados em
tais, direitos.
Fora disso é o cara do bigodinho se apropriando das obras
alheias e se apresentando como salvador que desceu á Terra após quarenta dias
em forma de menino pobre e de “eu sou homem”.
Todos somos homens ou mulheres, não importa de que forma ou
jeito façamos as nossas vidas, importa que possamos fazê-las e nos reconhecer
no outro por diferente que seja.
Eu e muitos que conheço, outros que estou conhecendo somos
humanos, queremos continuar a ser, por diferentes que sejamos, nos reconhecendo
nesse outro e percebendo esse outro.
Fora disso, o “eu quero é fazer”, ou “eu vou fazer”, é
apropriação indébita da coletividade que é quem faz.
CIDADE CAMARADA é isso aí. Pássaros voando por sobre os
dinossauros, beijando flores, construindo ninhos, pousando juntos sobre fios,
árvores, voando em bandos numa revoada de solidariedade, de harmonia, de amor,
de diferenças, mas de vida em sua essência e em sua razão de ser.
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